terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cold War - Janelle Monáe [Vídeo do Dia]



Artista: Janelle Monáe
Diretor: Wendy Morgan
Ano: 2010

Eu sei que muitas pessoas não considerarão esse vídeo maravilhoso, encantador e merecedor dos meus elogios rasgados. Mas é um fato. Esse vídeo não nenhuma outra tomada, nem mesmo outra cena. Não tem nada a não ser Janelle e é, por esse motivo, maravilhoso. Janelle é uma artista talentosa que merece ser reconhecida em nota do seu trabalho, e Cold War é aquele tipo de vídeo que te deixa intrigada, se perguntando o porquê, meu deus, de você não ter conseguido sair da aba do Firefox ou Chrome (se você usa Internet Explorer, me perdoe, se você saiu da aba, me perdoe outra vez).

Para mim, mais do que qualquer outra coisa, esse vídeo diz o quão Janelle é realmente admirável. Nós vivemos em um mundo que a arte se tornou algo pasteurizado, fabricado, enlatado, feito para consumo. Não que antes não fosse - não vamos nos iludir dizendo que antes tudo era melhor e que hoje tudo é horrível. As pessoas que viram o rock nascer diziam isso ao conhecerem o movimento hippie e Beatles, e essas mesmas pessoas hippies se declararam frustradas com o pop dos anos 80 e essas pessoas que idolatraram Madonna e Michael Jackson se dizem deprimidas com hoje que temos Kesha, Rihanna, Katy Perry representando o nosso pop e se recusam a admitir que Lady Gaga pode ter um décimo do talento de Madonna. Em suma, as pessoas nunca admitem que a arte da geração atual tem qualidade - o passado sempre é melhor. Mas é inegável que toda geração tem seus defeitos. E entre os defeitos da nossa geração, existe o péssimo hábito de simplesmente padronizar as cantoras, suas músicas e seus vídeos. Elas são todas bonitas, são todas gostosas, são todas autotunadas, são todas sexies, são todas produzidas sussurrando coisas sensuais.

Janelle é uma daquelas cantoras que nos tiram desse mundo. O vídeo dela pode ser considerado absolutamente sem graça para todo mundo - porque nos acostumamos demais a vídeos com zilhões de coreografia, cenários, hiper-mega-super-produções. Gastar horrores em um videoclipe tornou-se motivo de orgulho. Não que tudo isso seja ruim - eu amo super-produções. É só porque vale a pena ser simples de vez em quando. Vale a pena focar só na Janelle e em seu expressivo rosto cantando sobre um amor que deixa de ser amor de vez em quando. É bom sair um pouco de toda essa confusão de músicas chicletes, remixes estúpidos para pegar #1 na Hot 100, photoshoots apelativos para por uns quatro minutos, focar em um pouco de emoção humana, de verdade.

Vale a pena ver Cold War simplesmente porque é Janelle. Porque ela, com todo seu carisma e energia, transborda talento sem precisar de mais nada. É bom ver artistas assim, que são artistas só por serem, sem precisarem de dançarinos, fogos de artifício, efeitos especiais e milhões de dólares. É bom ver um vídeo assim, despido de tudo, e ter certeza que milhões de dólares não fazem um bom vídeo. É por todas essas razões que eu amo esse vídeo.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sixth Sense - Brown Eyed Girls

Olá! Bem, depois de um tempo sem análise, volto com o vídeo Sixth Sense, da girlband sul-coreana Brown Eyed Girls. Não conheço muito do trabalho da girlband (exceto que produzem singles e vídeos viciantes), mas esse vídeo, em especial, me chamou a atenção. No começo achei que eu estava simplesmente viajando na maionese, mas pessoas queridas me disseram que não era uma viagem tão grande e que, sim, muita coisa fazia sentido. Em suma, eu considero o vídeo uma alfinetada à Coréia do Norte. Mas para entender o vídeo, é preciso entender um pouco da situação.

[ Primeiramente, eu não sou especialista, nem cientista política, nem diplomata, nem coreana. Logo... eu não estou dizendo que a minha visão é a única correta ou algo assim. Porque eu nem tenho uma visão em especial para esse caso. Enfim, todo mundo sabe que Coréia do Sul e Coréia do Norte não se bicam. Eles tem vários problemas. O que rola é o seguinte: ]

Fontes: Linha do Tempo até 2002 | Infográfico da G1 de 05/2010 | Resumo da guerra bem simples | Wikipédia sobre Coréia do Sul | Coréia do Norte ?

Com esses links acima, impossível você não entender (especialmente em Síndrome de Estocolmo + BBC + G1 com o infográfico maravilhoso que tem uma boa animação que te dá a dimensão do que aconteceu). Mas vou dar a minha explicação para quem não tem tempo de ler tudo, e ela é bem simples e resumida: você lembra das aulas de história sobre Guerra Fria? Se você não lembra, vou te refrescar. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, ficou decidido que quem estava mandando no mundo eram os Estados Unidos da América (heróis! valentes! corajosos! Rambo matando todos!) e a União Soviética (comunistas que comem criancinhas!). Esses comentários entre parênteses eram a visão que o Brasil tinha, tendo ficado do lado dos EUA. E basicamente os dois países eram como feras que ficavam se encarando, recuando às vezes, avançando de vez em quando, montando estratégias e suspeitando de tudo. Nunca se atacavam diretamente. Mas financiavam a indústria bélica, mentiam sobre o inimigo aos seus cidadãos em jornais, matava quem se opunha, pressionava para que seus atletas, estudantes e tudo o mais fossem os melhores nas Olímpiadas da vida, disputavam pra ver quem chegava primeiro na Lua, Saturno ou Estrela da Morte. E ficaram nisso por um bom tempo.

E quando queriam se atacar, era simples: eles eram sempre oponentes nas guerras que rolava pelo mundo. Eles estavam lá na África do Sul, por exemplo, na luta contra o Apartheid. Eles estavam em todos os cantos. E estavam na Coréia.

Primeiro: a Coréia não é um país de sorte. Tinha China e Japão ferrando bonito de cada lado. Coitada. E, então, depois da 2ª Guerra Mundial, os soviéticos e os americanos decidiram entrar na dança também. Começaram a disputar território na Coréia. E os soviéticos ficaram no norte, ao passo que os americanos ficaram no sul. Então, Coréia do Norte declarou independência e ficou decidido que ia permanecer separado e tudo o mais. Aparentemente, para leigos desinteressados, ia ficar do mesmo jeito. Mas acontece que um lindo exército atacou o outro (nas versões oficiais, diz-se que quem começou foi Coréia do Norte, mas a gente sabe que história nunca tem UM culpado) e começou a chamada Guerra das Coréias, em 1950. Em poucos meses, o exército do norte já tinha invadido tudo do sul e, claro, os EUA ~ salvadores do mundo -n~ tomaram providências e deram uma ajuda aos sul-coreanos e conseguiram conter o avanço nortista. Não demorou muito tempo e a mesa virou de vez: o exército sul-coreano que avançou totalmente pro norte e pegou quase tudo, só que aí chegaram na fronteira com a China.

E então a China achou que aquilo tava virando putaria já e entrou na guerra, para ajudar os norte-coreanos e avançaram again. Nesse lance, pegaram a Seul novamente (que hoje é a capital da Coréia do Sul). E novamente, americanos e sul-coreanos ficaram mais putos ainda e conseguiram recuperar a Seul. Em 1953, os ataques cessaram. Isso quer dizer que foi assinado um cessar-fogo. Importante ressaltar: não foi assinado um acordo de paz. Isso quer dizer que, oficialmente, a guerra nunca acabou. No final das contas, Pyongyang ficou como capital da Coréia do Norte e Seul como capital da Coréia do Sul. E os sobreviventes tiveram que velar mais de 3 milhões de coreanos que morreram no conflito. E hoje, depois da Guerra Fria, temos uma Coréia do Sul mega-super-hiper-desenvolvida, toda high tech, com bons índices de crescimento e temos uma Coréia do Norte em um regime tão, mas tão fechado que não temos nem idéia de como as coisas REALMENTE são por lá. Claro que tem sempre uma matéria babaca pra falar de como lá é horrível por causa do regime comunista e ditadorial e eu não duvido disso, mas ninguém tem uma noção de como as coisas realmente funcionam lá. É realmente um país muito fechado. Só sabemos que há uma ditadura, que é um regime comunista (que não anda bem de pernas) e todos tem receio.

Em suma, Coréia do Norte e Coréia do Sul vivem uma relação muito, muito complicada.

Link
fronteira entre as duas Coréias.

Quando eu vi esse vídeo pela primeira vez, fiquei com a pulga atrás da orelha. Eu realmente achei que poderia ser uma indireta à situação na Coréia do Norte. Eu não faço idéia se estou certa (até porque na análise que encontrei no fan-site da girlband, não tem nada falando sobre a guerra), mas eu acho realmente interessante essa idéia. Essas girlbands tem uma fama de serem superficiais por toda a imagem perfeita que possuem. A letra me faz pensar mais ainda. Óbvio que você pode pegar a letra como dois amantes ou algo assim. Mas, creio eu, faz um pouco mais de sentido se tentar ler a letra meio como a Coréia do Sul falando com a Coréia do Norte. Repare um trecho que peguei de um fan-site brasileiro da Brown Eyed Girls:

Apenas me siga enquanto eu te escolto
(Novo Mundo) Olhe para isto se você não acha que irá experienciar algo mais obscuro
(Me siga) uh (Diga meu nome) um pouco mais alto
Você não vai me esquecer, cante pra mim querido
(Me siga) está certo (diga meu nome) gracias
Consegue seguir?
Você não será capaz de esquecer isto depois de ouvir
Outra música vai se tornar entediante
(Levante os braços!) Pare e atire!


Fonte da tradução: Just BEG



Temos o portão negro com as paredes brancas, e asas imensas e negras - de uma gárgula? Evidentemente um imponente palácio, pertencente à uma pessoa rica ou algo assim. Temos uma câmera de vigilância - já temos, aqui, o conceito de observação, vigilância constante 24h que é repetido no vídeo todo. E então temos as quatro integrantes do grupo, cada uma representando algo diferente. De acordo com a liricista Kim (que colaborou na música), há vários conceitos que ela explica muito bem. Primeiro ela nos lembra que a história do vídeo não é linear, seguindo uma ordem de sequências. Cada garota representa algo diferente e não é necessariamente antes, durante ou depois dos eventos. De acordo com ela, a Jea está presa nos galhos, representa o sacrifício. A Miryo é a "reveladora das mensagens", sendo a rapper principal - tem os microfones enfileirados diante dela. A Narsha incorpora o sexto sentido em si, sendo a parte animalesca (sua roupa de oncinha esclarece bem isso), e a Ga-In, acorrentada na cadeira, representa resistência.

Então, nessa análise, estou pegando muito dos significados que a Kim nos deu para montar a minha própria interpretação, tendo o contexto político em mente.




Pensando na guerra real, é fácil associar os soldados da tropa de choque e o ditador que aparece mascarado em alguns frames como o ditador da Coréia do Norte ou como uma representação física do "Absoluto" (como Kim chama), da mentalidade de prisão, censura, vigilância total. Ele é o chefe. Seu símbolo é uma estrela de seis pontas, sendo uma delas vermelha. Usa uma máscara dourada - mentira, farsa, alienação. Temos os jornais colocados e pichados, tendo palavras e frases como BREAK OUR HEARTS, YOU HAVE A VOICE, THE SUN (alusão ao tablóide britânico?), FEEL WATCH PLUS, I REMEMBER SPELLING OUT OUR / OWN PRIVATE RESISTANCE, SIXTH SENSE, IN A WORLD MEANT TO BREAK. Temos o pano vermelho atrás do ditador, sendo a cor predominante da tropa de choque e do ditador que aqui chamaremos de Absoluto.

De um lado, as tropas de choque uniformizadas, enfileiradas, organizadas, tendo os holofotes e o símbolo. Do outro, temos as garotas com vários rapazes em volta, de queixo erguido, com jornais: um muro de palavras atrás deles. É a arma deles, é o que elas tem para se defenderem. A tropa de choque avança contra pessoas desarmadas - e isso é obviamente uma constatação óbvia do quão covarde um regime militarista e ditadorial é. As garotas não estão armadas, elas só tem a música. Mesmo assim uma tropa inteira de homens vai pra cima delas. Mas elas só começam a cantar quando mostra a Ga-In, acorrentada na cadeira, tendo uma câmera diante dela, a registrando. De acordo com a liricista Kim, Ga-In possui uma história anterior: ela usa a jaqueta militar do amante dela que morreu, e acaba sendo acusada de traição e subversão, sendo, então, presa, humilhada, torturada e abusada. Ela está assustada, mas diz que não é submissa. Nunca foi, nem será - e a mesma artista diz isso diante das tropas. Podemos notar sua força não se rebaixando a nenhuma forma de prisão.






A foto acima é do exército norte-coreano.

Em seguida, é a Narsha que se comporta como uma fera selvagem. Ela "foi dirigida para agir o mais selvagem possivel para o video", diz Kim, e isso é visível: com sua roupa de oncinha, unhas lixadas como mini-garras, o cabelo desfiado e castanho-meio-loiro, a maquiagem que lembra um felino. Depois da Narsha, temos a Jea presa nos galhos. Vagamente todos os galhos e tudo o mais, vistos de cima, me lembraram a coroa de espinhos que Jesus usa na crucificação e tudo o mais e isso combina com o que Kim disse, sobre Jea representar o sacrifício em si. Ela diz também que, diante das tropas de choque, Jea significa a música, sendo a líder, a que representa a vontade da música se rebelar. Jea, aponta Kim, é a única que não se rebela diretamente como Narsha, Ga-In ou Miryo fazem. Isso diz algo sobre a personagem de Jea dentro desse vídeo.

Nessa parte, cantam que "a música ocupará o vazio entre nós dois". Seria como se elas falassem que a música ajudará na aproximação entre as duas Coréias? Isso não seria de todo estranho, porque quem sabe um pouco de história entende que a arte, de modo geral, tem importância nas revoluções. Livros, músicas, peças de teatro - tudo é escape de uma situação, forma de expressar desagrado, revolta e/ou insubordinação a algo. Música também pode ser política, e talvez seja disso que as garotas falem. De se aproximar da outra Coréia - que não sei como elas vêem essa situação, mas eu imagino que seria como países irmãos e separados pelas brigas. Mas mesmo assim um irmão - ou irmã. Se eu fosse desenhar uma história que países seriam pessoas, eu colocaria as Coréias como duas garotas irmãs. Depois vem uma parte da música que eu gosto: "mais do que um sentimento, uma sensação de tirar o fôlego". Qualquer um interpreta isso como uma garota falando ao seu amante de como o enlouquecerá e o tirará do sério. Mas eu, sempre viajando na maionese, não acho que seja amor ou paixão ou tesão ou qualquer coisa que venha de um casal, e sim de liberdade.

Para um povo que vive preso, manipulado, acorrentado ao que o governo diz em um regime que não pode fugir, liberdade é simplesmente embriagante. Não é simplesmente algo pra sentir (a despeito da clássica frase de Clarice Lispector que diz que "liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome"), é algo além, indescrítivel, de "tirar o fôlego". Nesse contexto, a música e tudo o que eu estou pensando cai muito bem. Mais tarde, elas dizem que "esse sentimento que pretendo compartilhar transcede os limites da emoção". Mais uma vez, penso em liberdade, mais uma vez eu penso nos sul-coreanos dizendo isso aos norte-coreanos. Penso nelas falando não com namorados, mas com todo um povo - apresentando algo à eles, dividindo algo melhor do qualquer coisa e, para isso - e para isso serve o vídeo - tendo que se rebelar contra o sistema.

Nesse ponto do vídeo, as coisas estão simplesmente ficando tensas. As correntes de Ga-In são mais focadas e podemos perceber que Jea não está exatamente tranquila presa nos galhos, com toda a água, parecendo que vai se afogar. O vídeo está chegando ao que eu chamo de clímax. Há uma pequeninha parte que eu gosto, que é a de um gato preto andando no muro e depois saltando. Eu não consigo achar muita coisa sobre o que o gato significa na Coréia do Sul, mas eu achei um texto pequeno aqui que fala que o gato era venerado pelos budistas pelo auto-domínio e meditação pelos primeiros budistas (budismo é uma religião predominante na Coréia do Sul, apesar do número de cristãos estar crescendo). Em um blog, eu achei um texto que fala sobre significados em brasões e diz que gatos geralmente significam liberdade, vigilância e coragem (e todos os conceitos batem com o do vídeo, mas é um blog ocidental, logo...).





Vamos interpretar dessa forma e prosseguir. Repare que o gato pula o muro e do muro dá pra ver um pedaço da casa: ele está no ambiente da Miryo, a dos microfones. Mas depois Ga-In canta para os soldados pedindo para "beijá-la ao estilo francês" que significa, basicamente, de língua. Narsha aparece novamente, com mais destaque: dentro desse quarto em tons quentes, deitada na areia onde dança sensualmente, rodeada de coisas que parecem mini-televisões. Eles emitem flashes, o que, de acordo com a Kim, é pra dar mais ênfase à questão de estar sendo observada sem descanso. Narsha é felina, sabe que está sendo vigiada e parece, por um momento, até gostar disso. Ela é o sexto sentido encarnado.

E então, logo depois de uma visão de Jea aprisionada sendo puxada para baixo pela chuva, lago, galhos e tudo o mais, temos a seguinte frase entoada "no sonho, cujo o qual você guarda segredos... eu sou capaz de adentrá-los inconscientemente" e é bem nessa parte que um soldado da tropa ergue um pouco do seu capacete. As garotas tinham - lembrem-se - só as palavras ao favor delas. Elas não são como os governos das Coréias que tem mísseis e direto um míssel "cai" no terreno do outro. Elas são o povo, que não vai ter como se defender caso aconteça uma guerra. Elas tem a música e música é uma mensagem inconsciente. Politicamente e viajadamente na maionese falando, é a Coréia do Sul tendo sua mensagem ouvida na Coréia do Norte - e realmente fez estremecer a estrutura. O soldado ergue seu capacete, isso já faz com que ele abaixe a arma e ouça mais. E então temos a proposta de um novo mundo e a Miryo, diante dos microfones, acorrentada pelos pulsos e é interessante observar que cada corrente é atrelada a um leão de pedra - leão significa poder em qualquer lugar do mundo, devido a toda sua majestade. O leão é a autoridade a que ela está presa, e os microfones significam que ela tem que dizer algo. Não pode simplesmente ficar calada. Miryo tem o papel de rapper do grupo, então ela tem destaque nessa parte: está convidando alguém a começar um novo mundo, está sendo direta, quase autoritária. Ela é imperativa. "Cante pra mim, querido! Um pouco mais alto! Está melhor assim! Siga-me! Gracias!" em tom de ordem dão o tom da música. Não é só um convite, é quase uma exigência. No instante que ela diz que as "demais canções serão entediantes" e pede fogo, é o instante que ela se liberta - do poder, da autoridade, de tudo.




Ela está agindo por conta própria em nome do ideal dela. Ela atira (diante das tropas de choque), então, a máscara dourada do ditador e esse é o momento que a rebelião realmente começa. Os soldados começam a tirar as máscaras e se despir das armas, debaixo da chuva. A água tem um fator importante. Dentro do budismo, água significa pureza, serenidade, clareza. A água tem o significado de "limpar" não só as sujeiras materiais, como as imateriais - e isso se ajusta perfeitamente dentro do vídeo. A chuva é o momento que os soldados percebem o quão iludidos e enganados foram. É o momento da quebra total: Narsha chuta os microfones, Ga-In consegue fugir, Narsha joga uma mini-televisão pro lado, Jea parece (novamente) que está se afogando de vez, há mais gente dançando com as garotas e todos estão alvoroçados, sendo atingidos com enormes jatos de água, percebendo toda a trama de um ditador por trás e experimentando essa coisa que é além do sentimento, algo que nunca sentiram antes. A máscara dourada no chão representa a queda do ditador, porém...




... aparentemente era tudo uma fantasia. Tudo como um sonho, um desejo das garotas. A última cena é simplesmente a tropa de choque indo pra cima das garotas e acaba aí. Não sabemos, mas a mensagem fica embutida de que elas perderam, no fim das contas. Assim como a guerra: ela está acontecendo e não haverá vencedores se continuar desde jeito, normalmente estável, mas sempre com tensão no ar, desejos nunca completados, no fim das contas.

No fundo, Sixth Sense é sobre liberdade e revolução.



*** Não tem menção ao diretor ou diretora. Isso é porque eu não consegui descobrir quem dirigiu o vídeo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

apenas uma arte.

Eu devo um zilhão de desculpas por não ter postado mais no Lunalogia. Eu não tenho desculpas, só a mais pura e terna preguiça. Porque a preguiça é a mãe de todos os vícios. Mas eu decidi que nesse outubro, independente do que aconteça (minha escola sair da greve ou não), eu me comprometerei com o meu projeto da CNPq (muito, muito importante), com o Lunalogia e com os estudos. Em segundo plano, pretendo retornar com o Pernície e escrever uns livros (tenho vários projetos, nenhum está aos 50%, digamos assim). Confesso que sou extremamente relapsa, irresponsável, inconsequente.

Mas eu decidi que preciso melhorar (e confesso nesse espaço público que meu namorado me deu um ultimato: enquanto eu não terminar meu projeto, ele não virá à minha casa e isso significa tortura psicológica muito, muito cruel). Eu vou melhorar. Vou dormir mais cedo, acordar mais tarde, fazer posts pro Lunalogia independente de eu achar o vídeo chato ou não (eu estava fazendo análise de Hold It Against Me. Eu adorava aquele vídeo. E, de repente, passei a achar o vídeo um porre. Como se tudo fosse óbvio demais!). Vou fazer o meu projeto da CNPq (senão a CNPq me processará e me obrigará a devolver cada centavo que estão me pagando). Vou estudar para o ENEM. Vou ser uma pessoa centrada e responsável. Blanca, não ouse rir dos meus planos, porque estou falando sério, muito sério.

Enfim. Do que se trata esse post senão minhas desculpas e minha tentativa de redenção? Oh, apenas minha opinião sobre videoclipes.

Videoclipes são feitos para acompanhar músicas. Eles surgiram com o The Beatles, porque eles não podiam estar em todos os lugares ao mesmo tempo para tocar. Então eles fizeram um vídeo que acompanhasse aquela música e mandavam esse vídeo. Então os canais de TV passavam aquele vídeo. E isso se espalhou. Todos os artistas passaram a fazer. E o vídeo virou uma ferramenta visual, uma arte à parte. Há diretores, diretores de fotografia, roteiristas, maquiadores, figurinistas e engenheiros de efeitos especiais que vivem fazendo videoclipes de 4, 5 minutos. E particularmente sou apaixonada por eles.

Por que eu sou apaixonada por videoclipes? Basicamente porque eu considero que videoclipe é a junção de duas artes que eu amo de todo o coração: cinema e música. Saber fazer um vídeo é muito mais do que colocar uma câmera e uma cantora dançando sensualmente na frente dela. É uma arte. É absolutamente incrível como tantas pessoas se dedicam a produzir uma sequência de cenas, várias descartadas, para algo que pode ser inútil. Que pode não ter sucesso. Que pode ser ruim, rejeitado, esquecido. Ou pode ser louvado. Pode ser lindo. Pode ser fabuloso. Pode ser revolucionário. Pode mudar tudo. Quem diria que Thriller seria tão copiado assim? Quem diria que Single Ladies teria sua coreografia tão exaustivamente copiada até por bebês? Então, sabe, eu decidi fazer esse blog. Mas porquê?

Assim como filmes e livros, videoclipes também toda uma mensagem por trás. Eles carregam conceitos não só do artista, mas também do diretor, roteirista, e tantas outras envolvidas. Assim como há filmes vazios, há vídeos vazios. Mas ainda assim todos eles falam ALGO. E esse algo me fascina. Mas não vejo muitos blogs de análises de videoclipes por aí. Sabe, tem o FreakShowBusiness que simplesmente analisou Bedtime Stories e Telephone de uma forma que me deixou de joelhos. Eu não ouso falar desses vídeos depois do que foi dito. Mas o foco do blog não é videoclipe, e sim o pop em geral. Tem blogs dedicados à música, outros aos livros, outros aos filmes, mas não vejo nenhum que fale 100% de videoclipe, sabe? Então eu me resignava em ler análises em um blog conspiracionista cristão e, digamos, não era uma boa opção, mas era a que eu tinha encontrado. Eram análises longas e detalhistas, mas cheias de preconceito e aquele insuportável tom conspiracionista. E eu meio que percebi que a maioria das pessoas não entendia os videoclipes. Eles não entendiam o que as cantoras do pop queriam dizer, e não tinha ninguém pra dizer "olha, isso foi inspirado nisso e aquilo", mas sempre tem esses blogs conspiracionistas para afirmarem, com certeza, de como esses videos são cheios de referências ocultistas. E o que as pessoas farão? Elas acreditarão.

É por isso que eu quis fazer esse blog. Eu só queria dar uma interpretação minha - que não inclui nenhum ritual macabro de satanismo. Eu só queria chegar e dizer 'hey, gente, que tal esse ponto de vista?'. É isso que eu quero fazer nesse blog. Porque eu estou cansada de ver os fãs de Lady Gaga tentando interpretar os vídeos dela e todos agindo como se isso fosse ridículo, porque, hey!, não é! Não é ridículo você tentar entender o porquê de sua artista ter dançado entre crucifixos pegando fogo. Não é ridículo você procurar as referências artísticas de seu artista para sacar o que ele quis dizer. Não é ridículo tentar pensar como aquilo se relaciona à música! É cultura, e não é só "coreografia + carão + fogo/água/qualquer coisa". É uma obra de arte que merece ser analisada, assim como filmes e livros.

Em suma, concluo meu post que vai, oficialmente, restaurar esse blog já com aranhas, apesar de ser tão novinho. ♥


fonte: we ♥ it