terça-feira, 30 de agosto de 2011

3 Words - Cheryl Cole ft. Will.I.Am [Vídeo do Dia]

Inaugurando uma nova tag! Vídeo do Dia serve para que eu poste um videoclipe, fazendo algumas observações a respeito - não como uma resenha, mas como comentários gerais. É uma seção menor e mais prática e pretendo usá-la para suprir o vácuo de postagens que existe (e continuará existindo) entre as análises. O videoclipe pode ser de qualquer gênero, pode ser muito conhecido ou não, pode ser de qualquer época, de qualquer cantor. Não existe nenhum critério para eu eliminar um vídeo, nem mesmo meu gosto pessoal - eu não preciso gostar de alguma coisa para que essa coisa seja boa.

Enfim, eu inauguro essa tag com 3 Words, videoclipe que vi esse domingo e me maravilhou.



Artista: Cheryl Cole feat. will.i.am
Diretor: Vincent Haycock
Ano: 2009

Eu realmente amei esse vídeo na primeira vez que o vi. Sem nenhum pudor, eu tenho a opinião de que ele é um dos melhores vídeos que eu já vi na minha vida. A edição é primorosa, combinando cuidadosamente para as cenas se diferenciarem e se fundirem, e a fotografia, produção, tudo é muito bem cuidado. Eu achei uma bela metáfora sobre o amor - Cheryl e Will.I.Am estão em mundos diferentes, realidades diferentes, apesar de terem os mesmos sentimentos. Os dançarinos mascarados, as estátuas, a roupa preta de luto incluindo até o véu e a peruca branca reforçando isso, o enorme vitral em tons alaranjados e depois os dançarinos sem as máscaras, sendo que os lençóis que envolviam sua cabeça são agora parte da dança, leves: tudo é belo.

Considero que é um daqueles vídeos que não importa quanto tempo passe, continua lindo e atual. É um vídeo que não precisa ser situado, sua metáfora vale por si só. Sabe, quando eu vi o vídeo na primeira vez, eu não fazia idéia do que realmente significava. Depois de ler a letra da música, os comentários de alguns fãs e pensar um pouco, acho que eu posso dar um palpite a respeito. Eu penso nos dançarinos como o amor: um amor escondido, intenso, precisando se libertar e as cenas finais meio que confirmam minha linha de pensamento: eles estão livres, mais soltos e tão intensamente como antes. Porém a realidade de Cheryl e Will.I.Am só se funde uma única vez: quando ela está vestida como se estivesse de luto. Mas os dois estão de costas um para o outro e mal chegam a se tocar. Cada um ama o outro intensamente - e os dançarinos demonstram isso, sejam mascarados com os lençóis brancos ou com os véus de luto, sejam sem máscaras, eles estão ali ao redor dos dois e tem até mesmo uns poucos frames que mostram uma dançarina que "invade" a outra realidade. As estátuas aos moldes gregos contemplam o amor que nunca será concretizado (o que é engraçado se a gente parar pra pensar que a letra fala de um amor feliz, não um que não é realizado), indiferentes ao casal. E devo dizer: não consigo imaginar esse vídeo sem Will.I.Am. Parcerias são uma coisa delicada, porque para dar certo, é necessário que os dois artistas tenham química entre eles para realmente fazer do produto final uma coisa inimaginável. Lady Gaga e Beyoncé são uma dessas parcerias que deram certo em Telephone (a ponto de não conseguirmos imaginar Telephone sem Beyoncé), mas a banda Maroon 5 e Christina Aguilera não formaram uma parceria tão boa no vídeo de Moves Like Jagger (ela aparece tão pouco e não se pode dizer que ela REALMENTE tem química com Adam Levine). Porém mesmo que Cheryl Cole e Will.I.Am não se toquem nem nada e poderiam perfeitamente terem feito o videoclipe separados, em dias diferentes, é visível que os dois realmente atuam de forma a tentarem entender o outro.

Em resumo, é um excelente vídeo. Cheryl Cole tem outro vídeo que eu realmente gosto muito, chamado Parachutes, e ela parece ser uma artista talentosa no que faz. Quanto ao Will.I.Am não conheço muito bem, porque não vejo muitos vídeos do Black Eyed Pies para ter qualquer opinião (vi somente Where is the Love e My Humps. Não vou considerar os que vi de Fergie como Big Girl Don't Cry). Mas, finalizando, espero que mais vídeos assim sejam produzidos - com um bom conceito, cuidado com a produção, fotografia, edição, etc. Já basta desses clipes feitos a partir de ensaios de fotografia, certo, Madonna?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Can't Be Tamed - Miley Cyrus

Depois de muita demora, eis a próxima análise! Eu estava em dúvida: Yoü and I ou Hold It Against Me? De um lado temos o videoclipe mais recente de Lady Gaga que, por si só, é um prato cheio para esse blog. Do outro, temos o primeiro single do álbum recente da princesinha do pop. Mas eu acabei revendo um vídeo de 2010 e acabei optando por ele, e eu totalmente entendo se vocês pensarem "wow, Luna, porque uma Disney Star?". Mas acontece que eu tenho uma paixonite por Can't Be Tamed, de Miley Cyrus. Eu gosto dele. E eu acho ele tão digno de uma análise quanto Yoü and I ou Hold It Against Me.

Como vocês sabem, Miley Cyrus é americana, filha de um cantor country muito conhecido por lá, o Billy Ray Cyrus e começou a realmente brilhar na série Hannah Montana. Vamos pular essa parte da biografia dela porque ninguém merece que a gente lembre o passado Disney que a coitada só entrou porque era nova demais pra pensar no quão ridículo é algumas coisas da Disney. Vamos pensar em Can't Be Tamed, primeiro single de álbum com mesmo nome, lançado em 2010 e tinha como proposta principal dizer "oi, eu cresci". Miley definitivamente saiu das asas da Disney para esse novo projeto que só teve dois singles e atualmente o número de vendas beira entre 1 milhão e 1 milhão e meio, venda considerada boa já que o álbum já tinha morrido no segundo single. A canção fala, basicamente, sobre liberdade, autonomia, ir além do usual. É sobre uma Miley que quer, desesperadamente, fugir de todos que querem protegê-la, modificá-la, adequá-la à sociedade e ser ela mesma. Segue um trecho da música (porque o refrão é repetitivo, só tem três frases ordenadas de forma diferente):

Eu quero voar eu quero dirigir eu quero ir
Eu quero ser parte de algo que eu não conheço
E se você tentar me segurar eu posso explodir
Baby, agora você deve saber


[Tradução: Vagalume]

O videoclipe foi dirigido por Robert Hales, um cara britânico. Por ridículo que pareça, não consigo achar o website oficial do cara, então se você clica no nome dele, é direcionado à Wikipédia em inglês. E eu confesso que fiquei com preguiça de ver todos os videos, depois que resolvi ver o mais recente que juro pelo Back to Basics todinho que foi o vídeo mais chato que já vi na minha vida. E olha que Edge of Glory tá na parada - pelo menos Lady Gaga tá dançando loucamente. Nesse vídeo, a câmera só vai se afastando loucamente da terra. Só. Se você não acredita em mim, clique aqui. Então você entende porque eu fiquei com preguiça e também querendo adiantar a análise. Prometo que no próximo clipe dirigido por esse cara que for analisar, eu assisto outros deles. ^^~



O videoclipe tem uma temática simples e muito do que eu digo aqui é óbvio para fãs, mas Lunalogia nunca propôs ser original. Inicialmente o vídeo é situado em uma exposição de arte, os
visitantes representando uma alta sociedade: estão vestidos de gala, em um evento importante. Não será exagero mesmo se eu achar que todas essas pessoas, meras observadoras, representam a elite (dentro do contexto de Can't Be Tamed, da "elite" musical: produtores, empresários, todos aqueles que detém poder dentro da indústria da música). Em alguns frames, uma mulher dessa elite conversa com um cara de smoking e tudo. O detalhe interessante: a cabeça dela está dentro de uma gaiola, meio como se ela fosse um passarinho. Mas não é ela inteira, e sim só a cabeça. De certa forma, significa que aquela pessoa simboliza prisão mental - não no contexto de Disturbia, mas no sentido de que aquela mulher é manipulada de acordo com os interesses da elite. Ela não é livre mentalmente, mas pela sua naturalidade e adequação ao ambiente, ela não realmente acha que está presa ou algo assim. Há outra mulher em que a gaiola está acima da cabeça dela, presa. Mesmo significado: prisão. E então o apresentador apresenta (redundância!) uma nova espécie, raríssima: Avis Cyrus. A cortina se levanta e uma enorme gaiola é exibida.

Há um ninho onde Miley está. Ninho tem sentido de casa, lar. Ela está em um ninho = ela está protegida, amparada. Ela tem pra onde voltar, e relacionado à vida de Miley, simboliza a sua
estabilidade enquanto era Hannah Montana, ao fato de que antes ela era uma garota protegida do mundo, tendo uma gravadora investindo horrores nela e toda a mídia ao seu favor. Isso tudo forma o ninho dela - físico, financeiro, emocional. Mas quando Miley decide que é uma garota crescida e não precisa mais disso tudo, então ela mostra que está saindo do ninho, levantando vôo com as próprias asas. É por isso que Can't Be Tamed é tão adequado para expressar essa transição. De volta ao vídeo, Miley se ergue e encara a todos. A elite aplaude, e alguém tira fotos (não vou debater como ninguém diz "mas isso não é uma ave! é uma humana!" no primeiro momento) e ela reage se escondendo com as imensas asas negras que possui. Todos reagem com medo: não querem conhecer essa ave pronta para sair do ninho. Começam a fugir.



E então tem os dançarinos. A vestimenta é algo que realmente admiro nesse vídeo. Miley não parece uma caricatura de uma ave, e sim uma ave-humana e se move como uma. Digo a mesma coisa dos dançarinos: todos eles usam adereços lembrando aves. Todos eles representam a busca pela liberdade. Primeiro Miley está sozinha diante de um ninho e uma árvore (o simbolismo da árvore é bem simples: suporte ao ninho ou no sentido de "mãe natureza, geradora de vida". Nada que precise ser aprofundado), depois um fotográfo surpreso e corta pra
Miley novamente, mas agora as asas delas se erguem e mostram vários dançarinos: ela não está sozinha nisso. Todos começam a se afastar, dando aquela olhadela básica de choque e surpresa, mas ainda assim curiosidade. Ela não está nem aí: está presa na gaiola, ela e seus dançarinos, mas não ficará ali muito tempo. E aqui, nessa dança, há várias insinuações sexuais.

Bem, nós vivemos em uma sociedade que sexo é considerado uma espécie de parâmetro para definir se a pessoa é madura ou não (eu, particularmente, acho falho. Fazer sexo só precisa de hormônios em erupção, não de maturidade emocional), mas não é isso que Miley está querendo dizer. Ela está querendo passar a mesma mensagem que Christina Aguilera em Dirrty ou Britney Spears em I'm Slave 4 U: "HEY, SEUS FDPS, EU CRESCI! EU FAÇO SEXO AGORA, EU PAGO MINHAS CONTAS E FODA-SE O QUE VOCÊS ACHAM!". É um choque para crianças acostumadas com Hannah Montana assistirem Can't Be Tamed e perceberem que Miley realmente cresceu.

As pernas de fora, as insinuações e o brado de "can't be tamed" repetem a mesma coisa: você não pode mudar Miley para ela ser do jeito que você quer. Ela vai agir como ela quiser agir e você simplesmente não pode fazer nada a respeito. Ela não pode ser domada, nem modificada, nem ser considerada culpada de algo - ela está em seu direito de fazer o que bem entender. E então os dançarinos fogem, assim como ela, e há uma espécie de dança retorcida nos corredores. Nas paredes, você vê obras de arte e peças em exposição protegidas por vidro - tudo sendo quebrado, ameaçado. Com essa ação, é meio como se avisassem "hey, tomem cuidado, nós vamos arrebentar tudo isso". A elite está vendo algo que mantém com tanto zelo sendo destruído: a ordem, a moral, o trabalho.

Por que a ordem? Porque a indústria da música é má. Ela exige que seus cantores e compositores se mantenham na linha, que sigam todas as recomendações, que nunca se rebelem. Basta ver como a gravadora reagiu quando Britney tentou se rebelar: arquivou o projeto Original Doll que, provavelmente, seria o melhor álbum dela. Por que a moral? Porque a sociedade americana (englobando os EUA e o Brasil, de certo modo, porque copiamos muitas coisas deles) é hipócrita em geral. A "moral" é algo muito importante, ainda mais quando é uma mulher. Quando Miley quebra a imagem da Hannah Montana, ídolo infantil, de forma sexual, ela está ferindo a santa moral dos americanos. Ela está desviando do caminho que a maioria dos americanos considera decente e, por isso, ou é muito rejeitada ou é muito idolatrada. Por que o trabalho? Não estou falando do trabalho de emprego, etc. E sim do trabalho que custou para criar essa imagem de boazinha e virgenzinha que Miley teve tanto prazer em quebrar. Ou você acha que essas gravadoras não tem um trabalho do caramba quando tem que cuidar da imagem de alguém? Imagina a gravadora que cuida de Selena hoje? A gravadora tem que cuidar da imagem dela de boa moça e ela não pode simplesmente ficar pouco se lixando pra isso.

Bem, o vídeo é curto e não tem muitas tomadas, então dá para ir direto para duas cenas: o pavão e uma que ela está com vários dançarinos ao redor. Nessa que ela está com vários dançarinos, podemos ver um bode. Para algumas pessoas, isso significa satanismo, mas eu vejo de forma inocente e simples: ela está em uma posição de poder, sendo a protagonista entre os vários dançarinos que a rodeiam. Bode é um animal muito complicado: em termos pagãos, significa fecundidade e libido sexual, sendo um símbolo carnal (o que combina com a atmosfera do vídeo). Os chifres simbolizam poder. Logo Miley, uma ave, está encarnando esses conceitos mais terrenos. Algo assim. (e que venha os conspiracionistas imbecis dizerem que estou tentando tapar o sol com a peneira!) Simultaneamente temos uma Miley que canta em um corpete prateado deitada em um negócio como se fosse uma imensa, mas IMENSA cauda de pavão. Dando uma pesquisada sobre o que o pavão pode significar, simbolicamente falando, dá para descobrir vários significados diferentes e, surpresa!, quase todos eles se enquadram no contexto. Primeiramente, um pavão perde as penas no inverno e as ganha na primavera, e isso fez com que vários povos tivessem ele como símbolo de renascimento, renovação. Quando Miley se compara à uma ave e, por acaso, é um pavão, ela não quer dizer isso? Ela não quer expressar seu renascimento de uma forma metafórica? Dentro do budismo, existe uma coisa chamada "bodisatva" que é um ser que transcendeu coisas ruins como inveja, ódio, rancor e vive entre nós, sendo evoluído espiritualmente, para nos ajudar a evoluir também. Aparentemente um dos símbolos para tal coisa é um pavão. Não acho que Robert Hales ou Miley Cyrus tenha dito "olha, pavão significa evolução espiritual, bora usar?", mas eu gosto da coincidência - afinal todo mundo quer evoluir como pessoa. Eu gosto do fato de que pavão simboliza renascimento, vaidade, prosperidade, fertilidade e todas essas coisas passam uma energia boa - que é a que Miley deseja em sua nova etapa, quando ela sai do ninho para andar com suas próprias pernas.

E assim temos o final, com Miley sozinha em seu ninho. Ela voltou por conta própria? É curioso que ela não termine o vídeo livre, e sim em seu ninho, no mesmo local, mas com holofotes (que simbolizam a atenção dedicada à ela) apagando e faiscando e o local vazio. Talvez seja algo como Miley refletindo sobre sua liberdade em seu ninho, onde está segura. Ou talvez seja somente estético. De qualquer modo, Can't Be Tamed principia uma era que, provavelmente, acabou em uma turnê mundial (que até passou aqui no Brasil) dando uma mensagem bem clara aos fãs e aos haters: Miley cresceu. E ela definitivamente nunca mais será a doce garotinha de Hannah Montana.




Não sou louca: Simbolismo do Pavão

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Disturbia - Rihanna

Olá! :)

Hoje a análise é de um videoclipe de uma cantora pop que não é americana, mas faz sucesso feito uma: Rihanna. Eu simpatizo com ela não sei exatamente por quê. O vídeo em questão é o Disturbia. A música foi lançada para o relançamento do álbum Good Girl Gone Bad, sendo o terceiro single do relançamento em si e o sétimo single se for contar todos. O primeiro single desse álbum (contando tudo) é o hit Umbrella, música pela qual Rihanna é conhecidissíma. Quando eu vi Disturbia pela primeira vez (há bastante tempo), eu achei que era um single do álbum Rated R porque ele é meio sombrio, dark, esse clima de "trevas, escuridão e terror moram dentro de mim". Sabe, eu associava a capa de Rated R com o videoclipe de Disturbia. Mas quando eu resolvi analisar, descobri que é ainda é do terceiro álbum que ainda tem aquela coisa de garota hiteira que faz todos dançarem.

Para se ter uma idéia, a música foi escrita junto com Chris Brown. Ou seja, não tem aquela coisa toda de Rated R. O vídeo é produzido pelo cara de Rihanna, Anthony Mandler (e vou te contar: achar o site oficial dele é uma merda, porque o safado coloca algo genérico como 'letsfilms' para o site). Eu o chamo de o cara de Rihanna porque ele dirige quase todos os vídeos dela, sem brincadeira: Take a Bow, Rehab, Wait You Turn, Russian Roulette (que vai receber uma análise, tá até na listinha na sidebar), Te Amo, Only Girl, California King Bed e Man Down. Dá para sacar, então, o quão o cara é O CARA DE RIHANNA? Ele é isso. Mas pelo site dele, deu para perceber que enquanto Rihanna tira uma folga, ele dirige outros videoclipes como You Lost Me, de Christina Aguilera, Irreplaceable de Beyoncé, Maneater de Nelly Furtado. Eu ~ particularmente (pelo pouco que vi do trabalho dele) ~ acho que ele realmente só funciona com Rihanna. Man Down é um ótimo vídeo -s (gosto é gosto, desculpa aí)

Clique nas capas de single abaixo para conferir os trabalhos citados do cara + Man Down :)




Enfim, o vídeo! O título da música traduzido é "Paranóia" e a música certamente é bem perturbadora. Aparentemente trata de medo, paranóia, fobia. Como uma constante sensação que alguém está atrás de você e nada, nunca é seguro. O vídeo, certamente, é uma boa expressão dessa atmosfera sombria. Eis o refrão traduzido:

[Dentro da sua mente]
Está paranóica
É como se a escuridão fosse a luz
Paranóia!
Estou assustando você essa noite?
[Dentro da sua mente]
Paranóia
Eu não estou acostumada ao que você gosta
Paranóia! Paranóia!

[Tradução: Letras Terras]

Temos, então, o vídeo que foi dirigido por Mandler e por Rihanna (dupla dinâmica). Assista-o e absorva o conceito dark, surreal, paranóico da coisa.



Primeiramente, esse vídeo é a MINHA visão. Não achei em nenhum lugar uma interpretação realmente consistente, só achismos de fãs, então eu meio que não tenho nada pra confirmar ou negar o que estou dizendo. Essa interpretação minha PODE estar errada, mas é uma que eu tirei após ver o vídeo várias vezes. E vamos dizer que não achei o vídeo exatamente fácil, e há muitas lacunas nesse texto. Mas de qualquer modo, vamos lá. Primeiro: o vídeo é a retratação óbvia da "paranóia" (o título, a letra da música diz isso). Então vamos esclarecer o que é realmente paranóia: é uma psicose em que você começa a ter delírios dentro de uma lógica, e isso começa a crescer de uma forma que se perde o controle. A paranóia pode ser associada à muitas coisas: achar que seu vizinho é um serial killer (por sinal, sinopse de um filme chamado Paranóia), achar que seu namorado está te traindo, achar que todos querem te derrubar. Você se perde nesse delírio, mas ele é real, crível e verdadeiro para você. A paranóia não tem que vir com alucinações ou algo do tipo. É algo que acontece dentro da cabeça da pessoa.

Então temos o vídeo com várinas personas de Rihanna. Primeiro vemos a persona matrona: Rihanna está de preto, dominadora, usa um leque para se abanar. Ela está no centro. Se eu pensar que o vídeo é a retratação de, digamos, psique de uma pessoa paranóica (ou várias psiques), talvez essa persona rainha (vamos chamar assim) possa ser a representação consciente, perversa, a que mantém as outras personas em estado de tortura. Ela é a única que não está sendo torturada, acorrentada, presa. Ela é a única que está totalmente à vontade. É o mundo dela: de perversões, crueldades, idéias distorcidas. Para ilustrar mais ainda, ela se senta em uma cadeira que é ornamentada com chifres. Parece que são chifres de bode. Antes que você diga "oh ela é satânica, bodes são dumaw", deixa te lembrar uma coisa: desde os primórdios da humanidade, chifre simboliza poder. O motivo é puramente biológico: entre animais chifrudos (bodes, carneiros, touros), um chifre é um ótimo atrativo pros machos. Se você tem chifre, meu irmão, você é o macho alfa. O rei da manada.

Não é de se espantar, portanto, que chifres sejam associados à potência sexual e por tabela, ao poder. Isso, inclusive, é um significado bíblico e a Wikipedia (eu te amo, sua linda!) não me deixa mentir: E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. - Apocalipse 17:12

Logo, essa persona é a que manda tudo naquilo. Ela é a impiedosa, a que faz com que a mente continue naquele estado. Ela é a carcereira. Eu acredito que nas cenas que Rihanna aparece como se estivesse no Kadooment Day (é como o Carnaval no país de Rihanna, Barbados) é outra representação dessa persona. Ela está tão dominadora e consciente quanto nas cenas da persona na cadeira com chifres. Além disso seu cocar de penas lembra poder - e os povos primitivos sabem disso. Em filmes que retratam tribos indígenas, como você sabe quem é o chefe? É só ver quem tem o cocar mais espalhafatoso, com as penas mais bonitas. Podemos perceber que o poder é delimitado em Disturbia através de dois símbolos bem simples: chifres e penas.



Depois de ter entendido que tem essa persona dominadora, quem temos agora? Temos personagens (representados por outras pessoas) e temos as outras personas de Rihanna. Temos a loira com os olhos brancos, como se ela tivesse os virado para trás. O estado dela lembra o da possessão demoníaca, mas eu acho que isso é muito simplista. Ela está em uma prisão com grades. Em relação aos olhos, temos outra alusão visível ao olho: tem um homem com um tapa-olho logo no começo, vestindo uma blusa listrada. O olho, por si só, pode significar muitas coisas. Dizem que o olho é "a janela da alma". Então nesse caso, o que significaria a Rihanna loira aprisionada com os olhos brancos? Com certeza não é uma prisão física, e sim a mental, a psicológica. Essa persona tenta seduzir um cara, mas é impossível: a Rihanna rainha está no controle. Os olhos podem representar perda de consciência sobre si mesma: afinal de contas como você vê o mundo? Eu vejo essa Rihanna loira como uma parte da mente dela que está presa dentro de si, não consegue realmente ver ao seu redor, perdeu a consciência. Ela é a representação da paranóia propriamente dita: cega e aprisionada pela Rihanna rainha. Ela não deve sair daquela prisão: a Rihanna Rainha não permitiria.

Temos, então, os personagens: o travesti que se abanha com um leque e ele usa tons de vermelho (maquiagem, figurino), o cara do tapa-olho (que está girando aquela coisa que esqueci o nome em navios) e pela roupa e pela ação, lembra um marinheiro, dois homens que estão sentados um de costas pro outro e outros como uma mulher acorrentada ao lado da Rihanna Rainha. Todos eles estão submetidos à ela. Todos eles representam algumas coisas individualmente. Eu não sei exatamente, mas eles me passaram aquela coisa de vícios. Veja, o travesti de vermelho me fez lembrar luxúria. Ela (eu sempre trato travestis por "ela". Não sei se é o tratamento ideal, e se não for, me corrijam) está feliz, cheia de lascívia, abanando o leque. O marinheiro... não sei dizer. Marinheiros tradicionalmente são associados com passagens, viagens, travessias, meio como um barqueiro. Também são associados com rebeldia, romance, paixão. Não importa: todos esses significados se encaixam em Disturbia. Porém mais intrigante são os dois homens? Rihanna Rainha passa por eles, dá uma palmadinha no ombro e eles o encaram indiferentes. Essa é uma parte que não consegui decifrar, nem imaginar um significado que faça sentido (que é o que eu faço aqui, na maior viagem na maionese).



Outras cenas interessantes da Rihanna Rainha incluem ela dançando com outros dançarinos que se movimentam de forma torta, lembrando zumbis. É um cenário quente e Rihanna é erguida pelos dançarinos lá em cima. Novamente, mais uma vez, ela está afirmando seu poder. Se formos levar isso numa interpretação mais viajada, os dançarinos representam a mente de Rihanna que continue erguendo, dando o poder à Rainha Rainha e por isso ela mantém o poder. Basicamente como uma forma da pessoa alimentar o próprio vício, problema ou, como diz o título da música, paranóia. Os dançarinos que se contorcem provavelmente são vítimas do poder da Rihanna Rainha, mas eles não se erguem contra, nem se rebelam, muito pelo contrário. Dançam com ela, se movimentam com ela e a erguem nas alturas, garantindo assim a escravidão (nesse sentido, escravidão mental). E ainda lembrando coisas quentes, em seguida, Rihanna faz uma óbvia alusão à queima das bruxas.

A caça às bruxas foi uma perseguição religiosa e social que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII principalmente na Alemanha, na Suíça e na Inglaterra. As antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. O mais famoso manual de caça às bruxas é o Malleus Maleficarum, ou "martelo das feiticeiras", de 1486.

[Fonte: Wikipédia]

De que modo isso se enquadra no vídeo? Muito simples. Rihanna não está dizendo que é, literalmente, uma bruxa. Mas dentro do contexto do vídeo, eu acabei lembrando de uma, apenas uma coisinha: Bruxas de Salem. Não conhece a história? Então vai lá: algumas meninas em Salem começaram a ter delírios, passar mal, visões, etc, etc, etc. Uma coisa espantosa mesmo, e nenhum médico conseguia descobrir o que estava acontecendo. Obviamente, em uma época que se associava o demônio a qualquer coisa negativa, a cidade começou a dizer que a culpa era do capeta. Porém como o capeta agiria? Através de bruxas. E a primeira a ser acusada foi a escrava Tituba (que tem sua nacionalidade em dúvida, mas vários acreditam que ela seja barbadiana, exatamente como Rihanna), porque aparentemente ela contava histórias da terra dela às garotas que foram vitimadas, o que seria pecado na época, porque Tituba, assim como vários outros escravos, não possuem raízes cristãs. O caso cresceu e virou um dos maiores exemplos de histeria em massa. As pessoas da cidade (e de vilas próximas) entraram em um estado de paranóia constante onde qualquer uma podia ser a bruxa, e mais de 150 pessoas foram acusadas. Houve várias execuções e os acusados vinham de todas as classes sociais.

Em suma: Bruxas de Salem ficou marcado como um episódio triste sobre como uma cidade inteira pode mergulhar em histeria profunda causado pelo fanatismo religioso, torturando e matando várias pessoas que nunca matariam se conseguissem pensar racionalmente por um instante. Eu não sei se Rihanna pensou em Bruxas de Salem (eu achei realmente interessante o fato de que uma das personagens mais importantes é considerada barbadiana pela literatura, ao menos), mas com certeza ela retratou o que o estado de paranóia e outros problemas podem causar. Nesses frames, ela não está nesse estado de paranóia, mas consciente. Ela é uma vítima: da histeria dos outros.



Temos, então, a retratação das vítimas da Rihanna Rainha. Temos a Rihanna que está com o manequim. Ok, sem nenhum guia de significados de símbolos e tal, vamos prosseguir e interpretar as cenas seguintes: os fios pretos se cruzam, tal como uma aranha. Pode significar apenas aracnofobia (fobia de aranhas) ou algo mais profundo. Discorreremos sobre isso mais a frente, deixe-me falar do manequim primeiro: o manequim, por si só, é um símbolo meio que novo. Não é algo tão antigo quanto, sei lá, aranhas. Mas manequim é a representação do ser humano em outro material, sem vida. Assim como bonecos. O que você vê ao pensar em alguém mexendo com bonecas? Talvez uma criança brincando com boneca seja só uma criança com boneca, mas Rihanna movendo o manequim ao seu bel-prazer em uma obra tão sombria e cheia de metáforas, o significado tá mais pra manipulação. Ela abraça o manequim, ama o manequim, quer o manequim. Ela quer ser manipulada? Ela sabe que está sendo manipulada? Ela sabe que toda sua psicoce é coisa de sua cabeça, que não existe? É apenas uma demonstração de poder da Rihanna Rainha que consegue manipular? Oh, tantas coisas pode significar um mero manequim!

Então temos uma Rihanna presa pelas paredes. Talvez seja só claustrofobia. Mas as aranhas que correm em seu corpo, os braços fundidos às paredes e o véu em seu rosto passam a mensagem clara: ela está aprisionada e não tem pra onde fugir. Ela tem consciência do que está acontecendo, mas não pode simplesmente sair correndo: está no reino da Rihanna Rainha e não rola de pedir pra sair. Mais adiante, temos uma Rihanna acorrentada pelos pés. Mas ela está tentando fugir. Ela tenta remover as correntes dos seus pés. É uma Rihanna que sabe que está presa em um delírio mental, uma fantasia psicológica e está querendo sair dali. O interessante é que nessa parte, a música já sai da descrição desse estado e ela canta: "estou tentando manter o controle / mas estou lutando / você não pode sair / oh, eu acho que tô saindo". Não é interessante ver que em certas partes Rihanna canta como se fosse a Rainha? "Você não pode sair" diz ela a si mesma. Mas ela pode, ela também diz a si mesma. E temos então o lobo e a aranha. O lobo é associado à Rihanna Rainha. Esse animal, por si só, tem uma carga negativa graças às histórias como as de Chapeuzinho Vermelho. Somos acostumados a pensar que o lobo traz a escuridão, fim, morte, terror. Que o diga o mito do lobisomem. Porém o lobo é considerado um animal sagrado para muitas religiões. Ele é um daqueles animais que os deuses sempre se transformam. Talvez não seja exagero pensar no lobo como representação da ferocidade, destemor e como limite entre o espiritual e o material (no caso de Disturbia, entre o que é realidade e entre o que é fantasia). E temos a aranha.

Em relação à mitologia, a aranha me faz lembrar a Aracne, história da mitologia grega. Aracne era uma mortal que bordava (ou tecia?) lindamente. Todos admiravam muito o trabalho dela e ela começou a ficar toda cheia de si a ponto de se comparar com a deusa Atena. Atena, furiosa, decidiu que haveria uma competição entre as duas e caso Atena fosse melhor, ela mataria Aracne. As duas bordaram e teceram, e a deusa ganhou. Aqui as versões meio que divergem: umas dizem que Aracne se enforcou, outras dizem que Atena transformou a bichinha em aranha logo e então ela passou a tecer teias em vez de tecidos. E assim temos o animal carregado de simbologia. Se formos ajustar na mitologia, a aranha representa ego, a vontade de se julgar maior que o criador/chefe/qualquer coisa. Em outros significados, a aranha representa destino. Pois bem, em Disturbia, que significados teríamos? Eu acho que seria no sentido mais de armadilha, outro dos significados populares da aranha (que aparece também no filme Coraline, por sinal). A teia de aranha na cena de Rihanna com manequim é uma armadilha, ainda mais tendo o agente da manipulação em cena. A aranha subindo pelo corpo de Rihanna quando ela está aprisionada pode ser interpretada como um indicador de que tudo aquilo é uma imensa e gigantesca armadilha e ela está tecendo isso cuidadosamente sobre uma Rihanna aprisionada.




Como conclusão final, eu aponto para a frase "Were in the city of wonder". Eu pensei em traduzir como "Estamos no País das Maravilhas", mas obviamente não é "wonderland", e sim "cidade das maravilhas". Porém o sentido é bem parecido: se perder em um lugar que é confortável para você ("It's too close for comfort"), se emaranhar em armadilhas (aranha, manequim), acabar se aprisionando dentro da sua própria cabeça (correntes, grades). É um vídeo sobre prisão mental e de como isso funciona. De certa forma, todos nós temos uma prisão psicológica, como grades na nossa mente que prendem várias coisas (fantasias reprimidas, por exemplo) e de como isso afeta nossa sanidade, de um modo que pode parecer normal no começo, mas não é. Perdemos, então, o limite da nossa própria consciência sem se dar contas que criamos ainda mais grades. Eu acho que dá para dizer que, de um jeito mais normal (ou não), todos nós temos uma Rihanna Rainha dentro da nossa mente.


Não sou louca: Simbologia Bíblica | Simbolismo do Chifre | As Bruxas de Salem

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Wonderland - Natalia Kills

Olá! Hoje farei análise de um vídeo de uma cantora que chegou à indústria da música recentemente, a Natalia Kills. Ela é novata: seu primeiro álbum será lançado dia 16 de agosto, mas já lançou alguns singles acompanhados de vídeos enigmáticos, confusos que certamente contam com uma bela (ou não) por trás. Ela já é apontada como uma "marionete Illuminati" pelos blogs conspiracionistas devido aos vídeos. Por aqui, eu gostaria de fazer um comentário:

→ Eu não acredito que tenha uma organização satânica orquestrando as coisas no mundo. Todos nós sabemos que o mundo pertence à poucas pessoas e sabemos que a indústria da música é suja e perversa, mas não acho que isso tudo tenha alguma ligação com os Illuminati ou que os maçons sejam satânicos ou qualquer coisa do tipo. Eu acredito firmemente que todas essas besteiras estão acompanhadas de fanatismo e ignorância, sobretudo em relação a qualquer coisa que não seja cristã. De fato, muitos cantores se servem de símbolos - mas é como a cantora Kerli já declarou uma vez: "os símbolos por si só não são maus. A maldade está nas pessoas."

Eu achei pertinente fazer esse comentário por agora. Não quero que ninguém considere os vídeos de Natalia Kills ou de Christina Aguilera ou de Madonna satânicos, demoníacos. Se você acredita que Illuminati existem, é uma coisa. Mas você querer determinar quem está certo e quem está errado quando se tem religião no meio é um imenso e colossal erro. ←

O vídeo que analisarei hoje se chama Wonderland. O próprio nome é carregado de significado desde o clássico conto Alice no País das Maravilhas, que certamente é objeto de muitos estudos e inspiração para vários vídeos. A própria Floria que falei na última análise fez um comercial para a Hello Kitty baseado na história. Não consegui achar o nome do diretor em lugar nenhum, então por enquanto vou deduzir que Natalia Kills quem dirigiu o videoclipe (pelo que eu andei vendo, ela também dirige). Se você souber, por favor, passe pra mim nos comentários ou no twitter que eu adiciono a tag! :)

A música (aliás aparentemente todo o álbum de Natalia Kills) parece tratar de um amor complicado, cheio de nuances. O começo da música já diz bastante coisa:

Não sou a branca de neve mas estou perdida dentro dessa floresta
Não sou Chapeuzinho Vermelho mas acho que os lobos me pegaram
Não quero seus saltos e não sou a Cinderela
Não preciso de um cavaleiro, amor, então tire toda a sua armadura

Você é a fera e eu vou ser a bela, a bela
Quem precisa de amor verdadeiro se você me amar verdadeiramente
Eu quero tudo mas eu te quero mais ainda
Você vai me acordar se eu morder sua maçã envenenada?

[tradução: Vagalume]



O vídeo, então, relaciona diversos contos de fadas e outras coisas mais sinistras. Não tenho como definir uma sinopse geral: ela é uma criminosa e está tendo sua última refeição? É o que me pareceu. Mas, obviamente, o vídeo é mais profundo que isso [sem conversas de Illuminati, por favor!] e eu acho, sinceramente, melhor analisar por partes. O que cada coisa pode significar e as referências encontradas dentro da obra. Eu vi ambas as versões e achei a versão Director's Cut melhor, porque não possui censura ^^~





Bem, para começar, eu diria que podemos dizer que Wonderland tem três cores básicas: vermelho, preto e branco - porém é um vídeo muito colorido. O vídeo tem toda uma historinha dentro de um contexto de repressão policial, e tem outra tomada com Natalia encostada em uma porta e a câmera se foca unicamente nela. Ela usa um coque alto, batom vermelho e alguns colares dourados que se assemelham a correntes (se quer saber, eu acho corrente uma coisa muito simbólica. Quase sempre significa prisão, seja no sentido de "se libertar" ou "sado-masoquismo"). Há também quadros com frases como LOVE IS PAIN que ocupam a tela toda. Elas aparecem por segundos, muito rapidamente, o tempo de uma piscada de olhos. Não tem como evitar a associação com lavagem cerebral ou mensagens subliminares.



O começo mostra Natalia vestida de Chapeuzinho Vermelho acompanhada (um eufemismo gentil) de policiais de tropa de choque e algumas moças com ar tristonho, de preto. Natalia está
se debatendo, não quer andar e há frames rápidos de cenas que parecem ser a polícia reprimindo manifestações. Mas, enfim, ela chega em um imenso salão (nesse instante, há uma cena muito rápida de uma língua com um olho pintado) cujo piso é quadriculado em preto e branco. Nesse salão, há uma imensa sala de jantar. E é essa mesa de jantar que nos interessa!

Podemos perceber que há vários cupcakes com pílulas enfiadas, em forma de cápsulas. Há uma estatueta de gesso, aparentemente, de uma santa (pelo que parece) com rosas na cabeça. Há pedras. Há cupcakes que tem pílulas enfiadas. Vários. Tem alguns que as pílulas são meio brancas e meio vermelhas, outras que são metade azul e metade laranja. Eu posso estar viajando na maionese, mas esse lance de pílulas vermelhas e azuis, ainda que só pela metade, me faz lembrar Matrix: a pílula azul faz com que você mantenha a sua vida como está, sem nada mudar e a pílula vermelha faz com que você "acorde" para a vida. Na música Birds of Prey de Christina, também há a menção às pílulas vermelhas e azuis [tomar a azul só te faz chorar, a vermelha te faz esquecer o porquê].



O coelho é um animal que aparece duas vezes: nas máscaras que as mulheres usam e na representação viva, real que respira. Como estamos em uma canção chamada Wonderland (uma referência ao Alice no País das Maravilhas) e estamos em um vídeo e uma música com referências aos contos de fada, podemos assumir que há um Coelho Branco, assim como tem a mesa de chá e doces. O Coelho Branco sempre está atrasado e ele que acaba atraindo Alice ao País das Maravilhas. Ele é o elo entre o mundo normal e o mundo psicodélico. Em Matrix, Neo segue o coelho branco e é a metáfora para ele "acordar", por assim dizer. Então podemos dizer que o Coelho Branco é o que vai levar Natalia ao País das Maravilhas? E serão as pílulas que farão isso? Nós sabemos que se torna cada vez mais comum o hábito de se consumir antidepressivos ou qualquer outro remédio para fugir da dor. Como você pode ver aqui, o consumo de antidepressivos entre 2006 e 2010 aumentou de 13,8 milhões para 18 milhões.



Eu acredito, pessoalmente, que o Wonderland e as pílulas estejam co-relacionadas dessa forma. Ainda há o fator "tropa de choque": homens de prontidão que te ameaçam e te machucam. Ainda há as frases perturbadoras - que provavelmente vem de uma mente desiludida com a vida. O piso quadriculado normalmente é associado à maçonaria: os rituais da organização acontecem em cima desse tipo de piso. De acordo com o site Maçonaria.net, o pavimento em mosaico representa diversidade e oposição dos contrários: bem e mal, luz e treva, etc. Qual seria, então, o significado dentro do vídeo? Talvez represente a oposição entre dor e paz, entre ir para Wonderland onde tudo será maravilhoso ou entre ficar aqui onde ela não acredita em contos de fadas, onde há as tropas de choque. Há também tomadas de Natalia cortando os cabelos. Em filmes, vídeos, etc, quando a personagem corta os cabelos, significa querer se libertar, mudar de vida, deixar de ser aquela antiga pessoa e ser outra que será mais legal, mais decidida, mais qualquer coisa que a personagem queira ser. Assim é em Mulan (ela corta os cabelos quando deixa de ser a doce moça para casar para ser a guerreira) ou no videoclipe Fucking Perfect. Além disso, na mesa há imagens de bonecos quebrados. Geralmente bonecos quebrados significa perda de infância e isso significa, mais uma vez, a desilusão.



Há uma determinada cena que vários mãos escondem os olhos de Natalia. Um par de mãos significa apenas uma pessoa fazendo uma brincadeira, mas vários pares indicam algo maior. Aparece logo antes da palavra LIES surgir na tela em letras garrafais. Não é curioso?

Se formos relacionar tudo nesse contexto, então Natalia sendo levada à força para esse chá → pílulas → tropa de choque → Wonderland, quer dizer que podemos associar várias mãos que cobrem os olhos de Natalia como "uma sociedade que cega" ou qualquer coisa parecida? Ela não pode ver nesse momento, está cega. Cega de amor? Mas ela não quer não ver. Ela não parece gostar disso. Mas lembre-se: todas essas coisas são especulações minhas. Vá saber se as pílulas era somente porque soavam legais. Ou então a estranha coisa que ela come: é um coração humano, literalmente falando! Seria algo como "comer o amor"? Amor é dor, diz as frases no vídeo. E ela acaba deixando o coração no prato na hora da pequena rebelião: sobe na mesa, chuta algumas coisas e resiste quando os caras da tropa de choque a pegam. As pessoas mascaradas são indiferentes. Elas não levantam nem detém Natalia quando ela se rebela. A máscara, por si só, é um símbolo forte e pode significar muitas, muitas coisas. Pode significar representação de um deus. Pode representar uma identidade. Ou esconder essa identidade (como a máscara de Batman!). Nesse caso, eu acredito que significa mentira, falsidade - ainda mais quando se é a máscara do Coelho Branco que a levará para Wonderland.

Esse conceito faz mais sentido quando se chega no final do vídeo.



Ao sair da casa (uma linda casa, por sinal), Natalia se debate. Mas logo ela para e ofega, e inclusive os homens a soltam. Ela não foge, nem se levanta, só fica ali parada. Parece perdida, depois olha para a câmera e em seguida a frase WE ARE ALONE. É o momento que ela se deixa vencer. Ela não resiste mais. E aparece alguns frames difusos, que você pode distinguir uma Natalia com sangue (?) na boca, mas é algo tão distante. Como um sonho. Como o País das Maravilhas. Em seguida, uma serena Natalia, os olhos semicerrados, e podemos ver a mão de um homem "ajeitando" a cabeça dela: é o carrasco e podemos ver isso pela máscara e pela foice. Sua máscara é a de um carrasco, mas é branca, e ele está de prontidão. Sem hesitar, ele corta a cabeça de Natalia. Nesse instante, a palavra WONDERLAND na tela. Na versão sem cortes, aparece a cabeça cortada na grama verde em seguida.



É esse o País das Maravilhas? É para esse caminho que as pílulas levam? Podemos interpretar que ela está vestida para um sacrifício? Se era um sacrifício, sacrifício em nome do quê? O quê exatamente era só estética e o que tinha algum significado? Enxergamos Alice e Chapeuzinho Vermelho, mas de certa forma todos os contos de fadas estavam representados: a perda da infância pelos bonecos, a tropa de choque como a ameaça presente no mundo, os cupcakes com pílulas podem representar, talvez, o escapismo, a forma como fugimos para qualquer lugar para evitar a dor e mágoa. Vermelho pode representar poder, mas também sacrifício, dor e paixão. O preto pode representar o luto - adequado às mulheres do começo. É um vídeo que é aberto para várias interpretações diferentes.

Esse texto é apenas uma interpretação que eu fiz. Obviamente eu posso estar errada - Natalia pode nunca ter pensado nessas coisas e sim em outras totalmente diferentes. Eu posso ter viajado na maionese, afinal eu fiz isso de madrugada e dizem que você não é muito racional de madrugada. Mas continua sendo uma interpretação válida. E Wonderland continua sendo um vídeo interessante, e o fato de Natalia Kills ter praticamente todos os seus (poucos) videoclipes com brechas para várias interpretações a torna uma artista muito válida para eu citar aqui outras vezes.



Essa imagem retrata todas as frases que aparecem no vídeo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Fighter - Christina Aguilera

Olá!
Essa é a minha primeira análise, para inaugurar o Lunalogia. Decidi começar com Fighter que, para mim, é um dos melhores videoclipes da cantora Christina Aguilera que é a minha cantora favorita. Então... Fighter foi escrita por Christina Aguilera em conjunto com Scott Storch, tendo David Navarro como o guitarrista. Foi lançado no álbum Stripped em 2002, porém o single só foi lançado em 2003. A música ficou em #20 na Hot 100 e em #3 na UWC.

A letra fala basicamente de se superar depois que alguém fdp te ferra, de se tornar mais forte a cada rasteira. Segue o refrão da música traduzido:

Pois isso me deixou muito mais forte
Me fez trabalhar mais
Me deixou muito mais sábia
Então obrigada por fazer de mim uma lutadora
Me fez aprender mais rápido
Deixou minha pele um pouco mais espessa
Me deixou muito mais esperta
Obrigada por fazer de mim uma lutadora

Bem *-*
Sabemos que a música fala de se superar. Provavelmente ela é direcionada ao ex-empresário de Christina que ela demitiu porque ele a explorava (de acordo com ela, mal tinha tempo para comer) e ele a processou por quebra de contrato e ela jogou ele na justiça também. Para o videoclipe, Christina contratou Floria Sigismondi que dirige e fotografa. No ramo de videoclipes, ela é bem procurada pelas bandas de rock para fazer videoclipes "estranhoas". No cinema ela dirigiu Postmortem Bliss [um curta] e The Runaways [um longa] que foi lançado ano passado que tem Kristen Stewart [Crepúsculo, O Quarto do Pânico] e Dakota Fanning [Guerra dos Mundos, Hound Dog] como as protagonistas Joan Jett e Cherie Curie, respectivamente. Confira o trabalho dela!



Conhecendo, então, como o mundo funciona para Floria e Christina, podemos ter uma noção de como será a parceria delas. Segue o videoclipe Fighter! :)



Falando superficialmente, o vídeo é sombrio que combina com a música raivosa. Mas dá para sacar vários conceitos escondidinhos que Floria ama colocar nos vídeos que ela dirige. Ela tem, por exemplo, uma obsessão com frutas - especialmente maçãs. Em Blue Orchid e End of the World que estão indicados aqui, por exemplo, a maçã aparece. Em Figher, a maçã aparece, assim como uma banana - as "bailarinas" (vou chamá-las assim devido à roupa que acabou me lembrando aquelas roupas de balé) comem essas frutas no começo do vídeo. A maçã é associada ao fruto proibido - que pode significar o sexo, o prazer sexual ou mesmo o conhecimento. Há muita controvérsia sobre o que seria esse fruto proibido na Bíblia, mas é um fato que em toda a literatura desde a Idade Média, a maçã é o símbolo disso. Não por acaso, a Madrasta oferece uma maçã envenenada à Branca de Neve. A maçã é uma fruta extremamente simbólica e o fato de ser comida mais ainda. A banana é uma fruta que não consigo encontrar nada que fale de um significado mais profundo, mas é comumente associada ao sexo [pelo formato fálico]. Essas frutas são comidas pelas bailarinas que parecem, estranhamente, com pessoas que se mantiveram presas, sem poderem se mover, em um lugar escuro por muito tempo.



Elas não conseguem andar direito, e elas mal enxergam - usam os dedos para "sentir" a atmosfera. Dentro do contexto do vídeo, podemos entender que é como se elas estivessem acordando de algo. Eu diria que é como se elas tivessem sido aprisionadas e agora estão livres, se tornando fortes para enfrentar o mundo que estão conhecendo. Paralelamente, Christina está presa em uma espécie de caixa de vidro envolta em um imenso pano preto. Está aprisionada, mas é visível que sua raiva e determinação a tornará livre. Ela quebra o vidro e está livre. As bailarinas a seguem - e todas portam dardos. As bailarinas se andam apoiando em dardos e a própria Christina tem alguns presos em seu manto negro [por sinal, eu achei que eram alfinetes de bolinha gigantes, mas acho que não daria para se apoiar nele para andar por aí, certo?]. Dardos são bem a referência da frase "never saw it coming / All of your backstabbing" que eu traduzo livremente como "eu nunca percebi / as suas punhaladas por trás". No Letras Terra tá "nunca vi chegando", mas eu acho a frase meio estranha. Enfim, o famoso "apunhalar por trás" é representado pelos dardos enfiados em seu manto.

Então é muito simbólico que justamente nessa parte seja a que as bailarinas se movimentam quase como fadas portando dardos e Christina atire-os, inclusive um contra a tela - em suma, ela está revidando. Ela está cansada de ser humilhada, o jogo acabou. É justamente nessa parte que se inicia a chamada metamorfose - que explica a mariposa no comecinho do vídeo e a estranha roupa que as bailarinas usam. O manto negro a envolve e depois se dissolve, revelando uma Christina de branco, cabelos crespos brancos, uma maquiagem diferente. Porém quando ela anda, há rastro negro no chão. Ela mudou - é visível. Ela passou por um processo de "tornar seu couro mais duro", porém seu passado está ali, o que ela fez continua, o que ele fez também. As cicatrizes continuam. [ATUALIZAÇÃO: @malu_mad me sugeriu no twitter que os dardos poderiam serem relacionados ao vodu também, sabe aquela coisa de "espetar no boneco" para fazer mal. Isso abrangeria outra explicação imensa que não posso fazer no momento, mas é muitissímo interessante. Mas eu tenho a obrigação moral de lembrar que há uma religião chamada voodoo e merece o mesmo respeito que o cristianismo ou o islamismo, e também o fato de que Hollywood não só demonizou a religião como também o hábito do espetar bonecos. Você pode fazer um boneco representativo e desejar coisas felizes à ela, porém vodoo acabou se popularizando com o somente fazer algo negativo através de "agulhas", o que combina mais com o que achei que eram as coisas no começo!]

Atualização 21/08/2011: um anônimo (muito obrigada!) apontou outra coisa interessante a respeito das agulhas/dardos! Ele/ela lembrou que estudiosos de insetos costumam usar os alfinetes para segurar as asas dos bichos bem abertas e assim poder estudá-las atentamente. O que também se aplica ao vídeo: os alfinetes que colocam na Christina que representa uma bela mariposa em metamorfose são as críticas, análises, julgamentos e preconceitos em cima da artista e ela se serve deles para se erguer e então rebater todas essas coisas, devolvendo tudo isso. Obrigada, anônim@ pela bela observação! ;)



O que o manto negro pode significar? Tantas coisas. Pode significar a antiga Christina - a ingênua. Pode significar as coisas ruins a que ela estava presa antes de se libertar. Pode significar tantas coisas ou apenas uma etapa para contrastar com o branco que - geralmente - representa paz, descanso, calma. Uma observação que eu notei é que o cabelo novo dela me lembra uma nuvem. Provavelmente é apenas estética, não tem nenhum sentido em especial, mas não pude deixar de reparar que o cabelo também faz parte da calma trazida pela roupa e maquiagem, fazendo Christina parecer uma fada exótica. Sua maquiagem lembra uma borboleta - além disso mariposas [aparentemente borboletas também] voam ao redor dela. Outra coisa com um forte significado, um dos maiores dentro do vídeo.



Mariposas e borboletas são associadas ao mesmo significado: metamorfose. A mariposa [mais comum no vídeo] é um animal noturno [o que combina com atmosfera criada por Floria e Christina no vídeo] e as pessoas sempre lembram da mariposa como o bichinho que é atraído à luz a ponto de morrer queimado [não sei se isso tem a ver com o vídeo, mas é uma observação interessante]. A metamorfose é um processo longo - primeiro há os ovos, depois as lagartas, em seguida a pupa [casulo] e por último a imago - quando o animal está pronto para procriar por aí. Podemos interpretar a "caixa" de vidro nos minutos iniciais do vídeo como uma espécie de pupa, o casulo - Christina estava amadurecendo, ganhando forças, para a metamorfose e nesse momento agora, de cabelos crespos e brancos, ela esteja na fase imago - sua metamorfose, finalmente, se concretizou. Mas não foi tão fácil: ela teve que ter força suficiente para sair desse "casulo", se erguer diante das agressões e escalar obstáculos [a parede que ela escala, literalmente falando].



Em seguida o olho. Uma das partes mais bonitas. Outra referência para dizer que ela está acordando - em um átimo de tempo, se eu não estiver louca, dá para perceber a pupila se contraindo [teria visto a luz?] e em outro átimo de tempo a pupila dilata. A passagem do olho é curta, mas simples e simbólica para dar espaço à terceira (?) fase de Christina representada pela cor vermelha O vermelho é uma cor muito simbólica [veja na Wikipédia para ver os vários significados que a cor possui] e pode significar fogo, paixão, raiva, perigo, etc, etc, etc. Eu, pessoalmente, acredito que o sentido usado em Fighter seja o agressivo - a aura de "alerta!" combina com a última parte quando há partes curtissímas em que tudo fica vermelho e o local parece desabar, com rochas caindo. As cores possuem significados muito fortes e são elas que acabam determinando a atmosfera de um local: cores pastéis para bebês, verde e branco para hospital, etc. Nesse caso, podemos entender que há três cores principais em Fighter: o preto do começo, o branco do meio e o vermelho no final combinado com o preto. Christina lembra uma oriental [não sei dizer por quê] e usa uma maquiagem focando em seus olhos azuis cujas íris se mexem, lembrando água. Eu vejo algo como determinação no olhar dela.



Assim Fighter se traduz como um vídeo que narra a metamorfose de uma artista, de 3:57 minutos no qual Christina retrata sua saída da "proteção", quando confiava e era fraca, até quando ela se veste de vermelho, no qual está forte, decidida a não deixar ninguém machucá-la. ♥

Não sou louca: simbolismo da maçã | simbolismo da mariposa