segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Can't Be Tamed - Miley Cyrus

Depois de muita demora, eis a próxima análise! Eu estava em dúvida: Yoü and I ou Hold It Against Me? De um lado temos o videoclipe mais recente de Lady Gaga que, por si só, é um prato cheio para esse blog. Do outro, temos o primeiro single do álbum recente da princesinha do pop. Mas eu acabei revendo um vídeo de 2010 e acabei optando por ele, e eu totalmente entendo se vocês pensarem "wow, Luna, porque uma Disney Star?". Mas acontece que eu tenho uma paixonite por Can't Be Tamed, de Miley Cyrus. Eu gosto dele. E eu acho ele tão digno de uma análise quanto Yoü and I ou Hold It Against Me.

Como vocês sabem, Miley Cyrus é americana, filha de um cantor country muito conhecido por lá, o Billy Ray Cyrus e começou a realmente brilhar na série Hannah Montana. Vamos pular essa parte da biografia dela porque ninguém merece que a gente lembre o passado Disney que a coitada só entrou porque era nova demais pra pensar no quão ridículo é algumas coisas da Disney. Vamos pensar em Can't Be Tamed, primeiro single de álbum com mesmo nome, lançado em 2010 e tinha como proposta principal dizer "oi, eu cresci". Miley definitivamente saiu das asas da Disney para esse novo projeto que só teve dois singles e atualmente o número de vendas beira entre 1 milhão e 1 milhão e meio, venda considerada boa já que o álbum já tinha morrido no segundo single. A canção fala, basicamente, sobre liberdade, autonomia, ir além do usual. É sobre uma Miley que quer, desesperadamente, fugir de todos que querem protegê-la, modificá-la, adequá-la à sociedade e ser ela mesma. Segue um trecho da música (porque o refrão é repetitivo, só tem três frases ordenadas de forma diferente):

Eu quero voar eu quero dirigir eu quero ir
Eu quero ser parte de algo que eu não conheço
E se você tentar me segurar eu posso explodir
Baby, agora você deve saber


[Tradução: Vagalume]

O videoclipe foi dirigido por Robert Hales, um cara britânico. Por ridículo que pareça, não consigo achar o website oficial do cara, então se você clica no nome dele, é direcionado à Wikipédia em inglês. E eu confesso que fiquei com preguiça de ver todos os videos, depois que resolvi ver o mais recente que juro pelo Back to Basics todinho que foi o vídeo mais chato que já vi na minha vida. E olha que Edge of Glory tá na parada - pelo menos Lady Gaga tá dançando loucamente. Nesse vídeo, a câmera só vai se afastando loucamente da terra. Só. Se você não acredita em mim, clique aqui. Então você entende porque eu fiquei com preguiça e também querendo adiantar a análise. Prometo que no próximo clipe dirigido por esse cara que for analisar, eu assisto outros deles. ^^~



O videoclipe tem uma temática simples e muito do que eu digo aqui é óbvio para fãs, mas Lunalogia nunca propôs ser original. Inicialmente o vídeo é situado em uma exposição de arte, os
visitantes representando uma alta sociedade: estão vestidos de gala, em um evento importante. Não será exagero mesmo se eu achar que todas essas pessoas, meras observadoras, representam a elite (dentro do contexto de Can't Be Tamed, da "elite" musical: produtores, empresários, todos aqueles que detém poder dentro da indústria da música). Em alguns frames, uma mulher dessa elite conversa com um cara de smoking e tudo. O detalhe interessante: a cabeça dela está dentro de uma gaiola, meio como se ela fosse um passarinho. Mas não é ela inteira, e sim só a cabeça. De certa forma, significa que aquela pessoa simboliza prisão mental - não no contexto de Disturbia, mas no sentido de que aquela mulher é manipulada de acordo com os interesses da elite. Ela não é livre mentalmente, mas pela sua naturalidade e adequação ao ambiente, ela não realmente acha que está presa ou algo assim. Há outra mulher em que a gaiola está acima da cabeça dela, presa. Mesmo significado: prisão. E então o apresentador apresenta (redundância!) uma nova espécie, raríssima: Avis Cyrus. A cortina se levanta e uma enorme gaiola é exibida.

Há um ninho onde Miley está. Ninho tem sentido de casa, lar. Ela está em um ninho = ela está protegida, amparada. Ela tem pra onde voltar, e relacionado à vida de Miley, simboliza a sua
estabilidade enquanto era Hannah Montana, ao fato de que antes ela era uma garota protegida do mundo, tendo uma gravadora investindo horrores nela e toda a mídia ao seu favor. Isso tudo forma o ninho dela - físico, financeiro, emocional. Mas quando Miley decide que é uma garota crescida e não precisa mais disso tudo, então ela mostra que está saindo do ninho, levantando vôo com as próprias asas. É por isso que Can't Be Tamed é tão adequado para expressar essa transição. De volta ao vídeo, Miley se ergue e encara a todos. A elite aplaude, e alguém tira fotos (não vou debater como ninguém diz "mas isso não é uma ave! é uma humana!" no primeiro momento) e ela reage se escondendo com as imensas asas negras que possui. Todos reagem com medo: não querem conhecer essa ave pronta para sair do ninho. Começam a fugir.



E então tem os dançarinos. A vestimenta é algo que realmente admiro nesse vídeo. Miley não parece uma caricatura de uma ave, e sim uma ave-humana e se move como uma. Digo a mesma coisa dos dançarinos: todos eles usam adereços lembrando aves. Todos eles representam a busca pela liberdade. Primeiro Miley está sozinha diante de um ninho e uma árvore (o simbolismo da árvore é bem simples: suporte ao ninho ou no sentido de "mãe natureza, geradora de vida". Nada que precise ser aprofundado), depois um fotográfo surpreso e corta pra
Miley novamente, mas agora as asas delas se erguem e mostram vários dançarinos: ela não está sozinha nisso. Todos começam a se afastar, dando aquela olhadela básica de choque e surpresa, mas ainda assim curiosidade. Ela não está nem aí: está presa na gaiola, ela e seus dançarinos, mas não ficará ali muito tempo. E aqui, nessa dança, há várias insinuações sexuais.

Bem, nós vivemos em uma sociedade que sexo é considerado uma espécie de parâmetro para definir se a pessoa é madura ou não (eu, particularmente, acho falho. Fazer sexo só precisa de hormônios em erupção, não de maturidade emocional), mas não é isso que Miley está querendo dizer. Ela está querendo passar a mesma mensagem que Christina Aguilera em Dirrty ou Britney Spears em I'm Slave 4 U: "HEY, SEUS FDPS, EU CRESCI! EU FAÇO SEXO AGORA, EU PAGO MINHAS CONTAS E FODA-SE O QUE VOCÊS ACHAM!". É um choque para crianças acostumadas com Hannah Montana assistirem Can't Be Tamed e perceberem que Miley realmente cresceu.

As pernas de fora, as insinuações e o brado de "can't be tamed" repetem a mesma coisa: você não pode mudar Miley para ela ser do jeito que você quer. Ela vai agir como ela quiser agir e você simplesmente não pode fazer nada a respeito. Ela não pode ser domada, nem modificada, nem ser considerada culpada de algo - ela está em seu direito de fazer o que bem entender. E então os dançarinos fogem, assim como ela, e há uma espécie de dança retorcida nos corredores. Nas paredes, você vê obras de arte e peças em exposição protegidas por vidro - tudo sendo quebrado, ameaçado. Com essa ação, é meio como se avisassem "hey, tomem cuidado, nós vamos arrebentar tudo isso". A elite está vendo algo que mantém com tanto zelo sendo destruído: a ordem, a moral, o trabalho.

Por que a ordem? Porque a indústria da música é má. Ela exige que seus cantores e compositores se mantenham na linha, que sigam todas as recomendações, que nunca se rebelem. Basta ver como a gravadora reagiu quando Britney tentou se rebelar: arquivou o projeto Original Doll que, provavelmente, seria o melhor álbum dela. Por que a moral? Porque a sociedade americana (englobando os EUA e o Brasil, de certo modo, porque copiamos muitas coisas deles) é hipócrita em geral. A "moral" é algo muito importante, ainda mais quando é uma mulher. Quando Miley quebra a imagem da Hannah Montana, ídolo infantil, de forma sexual, ela está ferindo a santa moral dos americanos. Ela está desviando do caminho que a maioria dos americanos considera decente e, por isso, ou é muito rejeitada ou é muito idolatrada. Por que o trabalho? Não estou falando do trabalho de emprego, etc. E sim do trabalho que custou para criar essa imagem de boazinha e virgenzinha que Miley teve tanto prazer em quebrar. Ou você acha que essas gravadoras não tem um trabalho do caramba quando tem que cuidar da imagem de alguém? Imagina a gravadora que cuida de Selena hoje? A gravadora tem que cuidar da imagem dela de boa moça e ela não pode simplesmente ficar pouco se lixando pra isso.

Bem, o vídeo é curto e não tem muitas tomadas, então dá para ir direto para duas cenas: o pavão e uma que ela está com vários dançarinos ao redor. Nessa que ela está com vários dançarinos, podemos ver um bode. Para algumas pessoas, isso significa satanismo, mas eu vejo de forma inocente e simples: ela está em uma posição de poder, sendo a protagonista entre os vários dançarinos que a rodeiam. Bode é um animal muito complicado: em termos pagãos, significa fecundidade e libido sexual, sendo um símbolo carnal (o que combina com a atmosfera do vídeo). Os chifres simbolizam poder. Logo Miley, uma ave, está encarnando esses conceitos mais terrenos. Algo assim. (e que venha os conspiracionistas imbecis dizerem que estou tentando tapar o sol com a peneira!) Simultaneamente temos uma Miley que canta em um corpete prateado deitada em um negócio como se fosse uma imensa, mas IMENSA cauda de pavão. Dando uma pesquisada sobre o que o pavão pode significar, simbolicamente falando, dá para descobrir vários significados diferentes e, surpresa!, quase todos eles se enquadram no contexto. Primeiramente, um pavão perde as penas no inverno e as ganha na primavera, e isso fez com que vários povos tivessem ele como símbolo de renascimento, renovação. Quando Miley se compara à uma ave e, por acaso, é um pavão, ela não quer dizer isso? Ela não quer expressar seu renascimento de uma forma metafórica? Dentro do budismo, existe uma coisa chamada "bodisatva" que é um ser que transcendeu coisas ruins como inveja, ódio, rancor e vive entre nós, sendo evoluído espiritualmente, para nos ajudar a evoluir também. Aparentemente um dos símbolos para tal coisa é um pavão. Não acho que Robert Hales ou Miley Cyrus tenha dito "olha, pavão significa evolução espiritual, bora usar?", mas eu gosto da coincidência - afinal todo mundo quer evoluir como pessoa. Eu gosto do fato de que pavão simboliza renascimento, vaidade, prosperidade, fertilidade e todas essas coisas passam uma energia boa - que é a que Miley deseja em sua nova etapa, quando ela sai do ninho para andar com suas próprias pernas.

E assim temos o final, com Miley sozinha em seu ninho. Ela voltou por conta própria? É curioso que ela não termine o vídeo livre, e sim em seu ninho, no mesmo local, mas com holofotes (que simbolizam a atenção dedicada à ela) apagando e faiscando e o local vazio. Talvez seja algo como Miley refletindo sobre sua liberdade em seu ninho, onde está segura. Ou talvez seja somente estético. De qualquer modo, Can't Be Tamed principia uma era que, provavelmente, acabou em uma turnê mundial (que até passou aqui no Brasil) dando uma mensagem bem clara aos fãs e aos haters: Miley cresceu. E ela definitivamente nunca mais será a doce garotinha de Hannah Montana.




Não sou louca: Simbolismo do Pavão

3 comentários:

  1. Eu acrescentaria que a Miley fantasiada dentro de uma gaiola está tentando se libertyar de sua imagem anterior, de virgem boa, pura. Ela já é do jeito que é - diz o que pensa, faz sexo, tudo isso, mas se sente presa na imagem anterior e quer sair.


    Amei essa análise, Luna <33


    E vc podia falar mais de você no Perfil!

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  2. Adorei a análise, Luna. Amo pavões *-* e muito sucesso pra Miley nessa nova carreira

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  3. Depois da fase Disney, eu realmente comecei a gostar de Miley, mesmo ela sendo meio porra-louquinha e tals...

    E o que é essa roupa preta dela? E aquele bustiê de tachas da parte do pavão? Tudo muito lindo, e a música é ótima! *--*

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