sábado, 5 de novembro de 2011

Vídeos que são puro amor ♥

É só uma lista com alguns videoclipes que são puro amor. Aí você fica sem entender e me pergunta: que diabos é "puro amor". Bom, tecnicamente falando:

amor |ô|
(latim amor, -oris)
s. m.

1. Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa.

puro
adj.
1. Sem mistura; límpido; genuíno.
2. Virginal; imaculado; inocente, casto.
3. Verdadeiro; exclusivo; natural; único.
4. Sincero; suave.

Usado como uma expressão dos novos tempos, puro amor quer dizer aqueles vídeos tão fofos e lindos que é totalmente difícil não dar um sorrisinho ou, pelo menos, ficar toda AWN *-* porque é amor demais pra um vídeo só. Eles normalmente envolvem pessoas se libertando, indo atrás dos seus sonhos, dançando de uma forma que é tipo IMPOSSÍVEL você não dançar junto. Filmes que são muito amor, por exemplo, são os musicais, como Hair. NÃO DÁ PRA VOCÊ FICAR DE CARA FECHADA DIANTE DE HAIR. É impossível, baby. Simplesmente impossível. E tem os artistas que são puro amor, mas aí vai da sua opinião. Eu acho Christina MUITO AMOR, mas sou fã dela daquele tipo que fica horas diante da Amazon se perguntando por quê não tem um cartão internacional para comprar algo que outras lojas dão por indisponível. Enfim, acho que tu entendeu o sentido do PURO AMOR nesses videoclipes. Se você estiver em um dia chato pra c*lho, venha aqui e se alegre com um deles. Dê um sorrisinho bobo. A vida é uma desgraça, mas não precisa ser o tempo todo. O mundo tá falindo e a galera tá ruim das pernas e todo mundo acha que o rock tá morrendo, mas isso não quer dizer que não haja mais coisas boas. Bora pra lista, então.

obs.: favor clicar nas capas dos singles pra ir pro Youtube e assistir os vídeos por que, sabe como é, vídeos fazem a página ficar lenta pra caralho e eu tenho piedade por aqueles que possuem a net devagar.



Shy Boy - Secret [2011]

Sabe, coreanos, no geral, são fofos. Mesmo quando são assassinos psicopatas e sanguinários, são fofos. É um dom divino que receberam. Os brasileiros sabem jogar futebol e tem samba no pé, os americanos são ótimos em fabricarem bombas atômicas, os franceses sabem ficar magros comendo um banquete todo dia e os coreanos são sempre fofos mesmo com cadáveres aos seus pés. Aliás não só os coreanos, mas os asiáticos em geral. Se duvida, assista Elfen Lied e me diga se a Lucy não fica super fofa matando a irmãzinha do coitado do Kouta. Então nada mais natural que os coreanos explorem essa fofura toda comercialmente falando e se dêem bem nesse nosso admirável mundo capitalista. Shy Boy é um desses vídeos que você tem vontade de pegar as garotas e colocá-las em um frasquinho, porque é muito amor, muito doce, muito meigo, muito tudo demais. Tem outro vídeo, o Starlight Moonlight, que dá a mesma sensação de AWN QUERO ESSAS MENINAS NUM FRASQUINHO *W* É insano.



I Want to Break Free - Queen [1984]

O puro amor desse vídeo é para aqueles que viram Shy Boy e não entenderam meu surto instântaneo de AWN. É para aqueles que acham que tudo feito antigamente é mil vezes melhor e humilha o rock de hoje em dia, para os saudosistas do Queen e para todo mundo que acha que Freddie Mercury de dona-de-casa cor-de-rosa fica muito amor. É para todo mundo que fica cantando ~ eu quero me libertar ~ e ama vídeos antigos com esses efeitos by movie maker. Porque movie maker é puro amor, gente. É tão legal ver a galera fazendo bons vídeos nos anos 80, sem um décimo da tecnologia atual, e mesmo assim sambando em muita coisa feita hoje em dia (ok Bey). Porque é o que sempre falo: foda-se se as câmeras são teckpix, o que importa é que a idéia seja boa e a edição idem. Não importa as melhores câmeras do mundo se você não sabe o que quer dizer com isso. Se você faz um vídeo sem conteúdo e atua mal pra caramba, nada que os caras inventaram no mundo das máquinas vai te salvar. E Freddie Mercury vai puxar seu pé à noite vestido de mulher pra te lembrar que ele arrasa com menos recursos que tu.



Happiness - Goldfrapp [2008]

Até agora não sei o que é Goldfrapp é (uma dupla? E cadê o outro? Só vejo a mulher loira risos), mas só sei que são muito bons. Adoro escutar os álbuns da dupla dinâmica, e esse vídeo é, para mim, um primor. É a prova filmada e produzida de que o Ocidente ainda faz muita coisa que é puro amor. A melhor parte que é sem corte, e eu adoro quando a pessoa consegue fazer um bom vídeo sem cortes (tem Wannabe de Spice Girls, mas não é tão puro amor assim pra estar aqui, apesar de ser divertido). Ok, TECNICAMENTE falando, não é em um take só, porque a guria aparece umas três ou quatro vezes em diferentes personagens, então obviamente é editado em vários takes. Mas eles fizeram de forma que soasse como se fosse um único take, muito bem editado. Palmas pra galera que colaborou. Merece um prêmio. Aí vamos ver o porquê do vídeo ser muito amor: é uma metáfora meio literal da felicidade, como o título da música. É um cara feliz e contagiando todo mundo com sua felicidade. É ele sendo gentil, ele dando flores, ele dançando com os pirralhos e uma banda que aparece no meio do caminho e é todo mundo se juntando no final. É muita felicidade, é muito amor. ♥




Love Lost - The Temper Trap [2010]

Foi dica da Letícia que passou outros vídeos também, mas desculpa eles eram meio tristes pra serem considerados animados pro meu dia, rs. Mas esse é TÃO AMOR, sério. Vai dizer que você não fez aquela expressão que faz quando vê um cachorrinho tentando encontrar sua bolinha? São garotinhos cantando sobre o amor que se perdeu (love lost é tão nome de comédia romântica rs), mas foi encontrado. E são garotos correndo ao mesmo tempo, em um pré-temporal, a chuva caindo fininho, o céu todo cinzento e os coitados todos sujos e amarrotados de lama, mas mesmo assim correm, de vez em quando, parando pra uma espécie de coreografia formada por movimentos de ginástica. Melhor momento: quando aparece as garotas. É tão engraçadinho porque elas simplesmente não dançam tão sincronizadas quanto os garotos. Então, de forma sem sincronia mesmo, que elas correm mais rápido, superando os garotos nisso. É A PARTE MAIS AMOR, gente. Você que não curtiu e achou estranho eu achar tudo isso: acho tu muito estranho.



Girls Just Want To Have Fun - Cyndi Lauper [1983]

Uma cantora pop salvando a pátria do pop nessa lista, aê. Mesmo que seja dos anos 80. Eu confesso que acho a música meio irritante, pela voz mesmo, mas a letra e o vídeo é super divertidos. É muito amor ela dizendo que caras namoram garotas lindas e as escondem do mundo, mas que ela só quer se divertir, porque é isso que as garotas querem. É muito amor os pais ficarem todos 'oh céus ela não tem vida decente' e ela repetindo com as amigas dela que só querem se divertir, porque, porra, diversão é uma das poucas coisas na vida que é de graça, bem ou mal, dependendo do tipo. E o vídeo tem toda aquela edição from anos 80, o que faz com que os saudosistas caiam em depressão pensando que tudo antigamente era melhor, até os lixos. Pena que Cyndi quebrou o barraco com a gravadora e se fudeu bonito depois, motivo que a fez ficar meio apagada ao lado de Madonna.



Open Your Heart - Madonna [1986]

Sabe, troquei tweets com a Blanca pensando se o vídeo é mesmo puro amor. A música é, definitivamente, puro amor. Mas aí decidimos que o vídeo vai ser incluído sim porque Madonna mostrou que é super possível dançar sensualmente diante de um bando de marmanjos e ainda assim o vídeo ser muito amor, com o finalzinho fofo e o menininho querendo entrar e não podendo. Tudo combina. A coreografia, os caras escolhidos, o menininho, o velho sonolento. Eu vejo altas referências à sociedade escondidas naqueles caras, algo sobre a hipocrisia (eu acho que aqueles dois caras fardados são um casal gay. Tem muita cara disso, gente) e os fetiches em geral, como o cara escrevendo numa folha com olhar de psicótico e outros que não querem ver, mas vêem. Madonna sempre colocava umas coisas do tipo, porque Madonna é Madonna e adora cutucar onça com a vara curta e entenda-se por onça como a santa e casta e hipócrita Igreja Católica Apostólica Romana, e igualmente santa, casta e hipócrita sociedade americana. Sou daquelas que baba ovo de Madonna e acha que ela é linda e maravilhosa quando usa terninho, então Open Your Heart está na lista por todos esses motivos e também porque é muito absurdo uma lista de videoclipes não ter unzinho de Madonna. Ela aparece em todas, até na lista de piores videoclipes da história (Give It 2 Me que me aguarde quando chegar a hora). Então eis aqui o espaço conquistado e merecido dela.



Paradise - Coldplay [2011]

Se você não sorriu com esse vídeo, recomendo um tratamento com serotonina pra você ser mais feliz. Primeiro porque Coldplay já é uma banda de puro amor (e aí as pessoas odeiam, porque elas não gostam de nada que seja puro amor, só de coisas hardcore tipo Ozzy comendo morcegos e indo parar no hospital) e só fazem música dessa vibe. Aí os vídeos são todos simples, sem coreografias esquisitas nem nada do tipo. Geralmente tem o Chris cantando com uma expressão de que está doendo muito sentir aquele amor todo. Aí eu já não curto muito porque sou alguém visual demais e gosto de cores, coreografias esquisitas, referências Illuminati para eu catar e coisas do tipo. Mas aí eles fizeram o Paradise que é uma historinha de um elefante que procura pelo seu lugar e encontra outros elefantes (quer dizer, humanos vestidos de elefantes sem a mínima pretensão de ser verossímil). Os elefantes são todos fofos (as orelhas são feitas de tecidos coloridinhos, por exemplo) e ficam dançando. E todo mundo se derrete por qualquer historinha de alguém procurando pelo seu lugar, porque todo mundo tá no mesmo barco. E quando é um elefante que consegue juntar grana e não pode comprar bicicleta, mas consegue uma oni-cicleta (risos), aí todo mundo fica AWN MELDELZ, que nem fica com o filme À Procura da Felicidade. A diferença é que Paradise é fofo, ingênuo e muito amor, já o filme de Will Smith não é ingênuo nem a pau com suas ideologias escondidas como veneno. Coldplay 01 x 00 Will Smith nessa, rs.



It's Oh So Quiet - Björk [1995]

Olha, Björk já é uma daquelas artistas que não passam nada a não ser puro amor. A cara dela já diz: SOU MUITO AMOR. As músicas dela, a voz dela, a postura já dizem que ela tem muito amor pra compartilhar com o mundo. O site dela é uma beleza para gente como eu que gosta de ver sites dessa galera, ver se tem informações decentes e um layout que não seja capenga. O problema da Björk (na verdade, problema pra nós, reles mortais) é que ninguém entende o que ela quer dizer com os vídeos dela. Eu queria ser uma dessas pessoas super inteligentes tipo Björk e vários fãs dela pra sacarem cada coisinha que ela faz, sabe? Mas não sou. Vi Moon e fiquei boiando (apesar de ter palpites sobre o ciclo menstrual ou algo assim). Vi outros e boiei ainda mais, apesar de achar tudo lindo e incrível. Pseudo-intelectual, eis-me aqui. Mas It's Oh So Quiet é aquele tipo de vídeo que eu acho lindo, fofo, amigável e muito amor pra todos. Eu curto esses vídeos de pessoas comuns se juntando pra cantar e dançar e é por isso que musical é o meu gênero de cinema preferido. É todo legal porque Björk combina o silêncio com um sapateado e dança com todo mundo e porque ela está com uma franjinha que a faz parecer uma criança, sem ficar ridícula. Muito amor, gente.

- Peço desculpas ter direcionado pra versão do video com letrinhas em comic sans ou uma fonte tão brega quanto. É só porque não tô achando uma versão em qualidade decente sem essas coisas, então... paciência.

Bônus de Fã:



Candyman - Christina Aguilera [2007]

Como sou fã doentia e respiro Christina (de acordo com meu lindo namorado), achei justo ser totalmente parcial e adicionar um bônus meu. Eu acho Candyman muito amor (sei que vão dizer que Beautiful seria mais amor porque só a cena da galera sorrindo vale por duzentos vídeos de puro amor) por tudo. Primeiro porque é Christina e ela todinha é muito amor, muita talento, muito sexy, muito tudo de bom. Segundo porque é um vídeo todo feito na vibe anos 40/50, então a coreografia, as roupas, tudo é uma coisa linda de se ver. Terceiro porque é uma vibe misturada com a militar, justamente do lado da marinha e eu sou parcial, porque eu já quis ser da Marinha oficialmente falando (desejo ardente durou uma semana) e acho que é tudo mais legal da Marinha (até as revoltas da Marinha são mais legal. Revolta da Chibata owna). Aí junta as três coisas que eu amo em um vídeo só com todos os carões de Christina, a música super divertida que é impossível não curtir (sei que tem gente que não curte. Eu não entendo. É incompreensível) e pronto, uma explosão de puro amor.

- ♥ -

E é isso. Não, não tem videoclipe nacional. Não consegui pensar em nenhum que fosse puro amor (só um fanmade de Eduardo e Mônica que não é o da Vivo, but não era oficial), e também não tem nenhum latino (por que meu conhecimento da música latina é o mesmo da música de Sudão: zero. Quer dizer, sei de uns gatos pingados como Anahi, Paulina, Shakira, Gloria, Dulce, Maite e sei que fãs de Anahi e Dulce vivem se pegando pra saber quem flopa mais no resto do mundo). Na próxima lista, espero incluir uns representantes do resto do mundo pros americanos não serem tão onipresentes e poderosos-mor. Mas perdão aí pela ausência do Brasil. E não contem com Wanessa pra salvar isso aqui, a julgar pelos vídeos recentes dela.


gif from tumblr, da Sarah que me ensinou a fazer gif bonito. ♥

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cold War - Janelle Monáe [Vídeo do Dia]



Artista: Janelle Monáe
Diretor: Wendy Morgan
Ano: 2010

Eu sei que muitas pessoas não considerarão esse vídeo maravilhoso, encantador e merecedor dos meus elogios rasgados. Mas é um fato. Esse vídeo não nenhuma outra tomada, nem mesmo outra cena. Não tem nada a não ser Janelle e é, por esse motivo, maravilhoso. Janelle é uma artista talentosa que merece ser reconhecida em nota do seu trabalho, e Cold War é aquele tipo de vídeo que te deixa intrigada, se perguntando o porquê, meu deus, de você não ter conseguido sair da aba do Firefox ou Chrome (se você usa Internet Explorer, me perdoe, se você saiu da aba, me perdoe outra vez).

Para mim, mais do que qualquer outra coisa, esse vídeo diz o quão Janelle é realmente admirável. Nós vivemos em um mundo que a arte se tornou algo pasteurizado, fabricado, enlatado, feito para consumo. Não que antes não fosse - não vamos nos iludir dizendo que antes tudo era melhor e que hoje tudo é horrível. As pessoas que viram o rock nascer diziam isso ao conhecerem o movimento hippie e Beatles, e essas mesmas pessoas hippies se declararam frustradas com o pop dos anos 80 e essas pessoas que idolatraram Madonna e Michael Jackson se dizem deprimidas com hoje que temos Kesha, Rihanna, Katy Perry representando o nosso pop e se recusam a admitir que Lady Gaga pode ter um décimo do talento de Madonna. Em suma, as pessoas nunca admitem que a arte da geração atual tem qualidade - o passado sempre é melhor. Mas é inegável que toda geração tem seus defeitos. E entre os defeitos da nossa geração, existe o péssimo hábito de simplesmente padronizar as cantoras, suas músicas e seus vídeos. Elas são todas bonitas, são todas gostosas, são todas autotunadas, são todas sexies, são todas produzidas sussurrando coisas sensuais.

Janelle é uma daquelas cantoras que nos tiram desse mundo. O vídeo dela pode ser considerado absolutamente sem graça para todo mundo - porque nos acostumamos demais a vídeos com zilhões de coreografia, cenários, hiper-mega-super-produções. Gastar horrores em um videoclipe tornou-se motivo de orgulho. Não que tudo isso seja ruim - eu amo super-produções. É só porque vale a pena ser simples de vez em quando. Vale a pena focar só na Janelle e em seu expressivo rosto cantando sobre um amor que deixa de ser amor de vez em quando. É bom sair um pouco de toda essa confusão de músicas chicletes, remixes estúpidos para pegar #1 na Hot 100, photoshoots apelativos para por uns quatro minutos, focar em um pouco de emoção humana, de verdade.

Vale a pena ver Cold War simplesmente porque é Janelle. Porque ela, com todo seu carisma e energia, transborda talento sem precisar de mais nada. É bom ver artistas assim, que são artistas só por serem, sem precisarem de dançarinos, fogos de artifício, efeitos especiais e milhões de dólares. É bom ver um vídeo assim, despido de tudo, e ter certeza que milhões de dólares não fazem um bom vídeo. É por todas essas razões que eu amo esse vídeo.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sixth Sense - Brown Eyed Girls

Olá! Bem, depois de um tempo sem análise, volto com o vídeo Sixth Sense, da girlband sul-coreana Brown Eyed Girls. Não conheço muito do trabalho da girlband (exceto que produzem singles e vídeos viciantes), mas esse vídeo, em especial, me chamou a atenção. No começo achei que eu estava simplesmente viajando na maionese, mas pessoas queridas me disseram que não era uma viagem tão grande e que, sim, muita coisa fazia sentido. Em suma, eu considero o vídeo uma alfinetada à Coréia do Norte. Mas para entender o vídeo, é preciso entender um pouco da situação.

[ Primeiramente, eu não sou especialista, nem cientista política, nem diplomata, nem coreana. Logo... eu não estou dizendo que a minha visão é a única correta ou algo assim. Porque eu nem tenho uma visão em especial para esse caso. Enfim, todo mundo sabe que Coréia do Sul e Coréia do Norte não se bicam. Eles tem vários problemas. O que rola é o seguinte: ]

Fontes: Linha do Tempo até 2002 | Infográfico da G1 de 05/2010 | Resumo da guerra bem simples | Wikipédia sobre Coréia do Sul | Coréia do Norte ?

Com esses links acima, impossível você não entender (especialmente em Síndrome de Estocolmo + BBC + G1 com o infográfico maravilhoso que tem uma boa animação que te dá a dimensão do que aconteceu). Mas vou dar a minha explicação para quem não tem tempo de ler tudo, e ela é bem simples e resumida: você lembra das aulas de história sobre Guerra Fria? Se você não lembra, vou te refrescar. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, ficou decidido que quem estava mandando no mundo eram os Estados Unidos da América (heróis! valentes! corajosos! Rambo matando todos!) e a União Soviética (comunistas que comem criancinhas!). Esses comentários entre parênteses eram a visão que o Brasil tinha, tendo ficado do lado dos EUA. E basicamente os dois países eram como feras que ficavam se encarando, recuando às vezes, avançando de vez em quando, montando estratégias e suspeitando de tudo. Nunca se atacavam diretamente. Mas financiavam a indústria bélica, mentiam sobre o inimigo aos seus cidadãos em jornais, matava quem se opunha, pressionava para que seus atletas, estudantes e tudo o mais fossem os melhores nas Olímpiadas da vida, disputavam pra ver quem chegava primeiro na Lua, Saturno ou Estrela da Morte. E ficaram nisso por um bom tempo.

E quando queriam se atacar, era simples: eles eram sempre oponentes nas guerras que rolava pelo mundo. Eles estavam lá na África do Sul, por exemplo, na luta contra o Apartheid. Eles estavam em todos os cantos. E estavam na Coréia.

Primeiro: a Coréia não é um país de sorte. Tinha China e Japão ferrando bonito de cada lado. Coitada. E, então, depois da 2ª Guerra Mundial, os soviéticos e os americanos decidiram entrar na dança também. Começaram a disputar território na Coréia. E os soviéticos ficaram no norte, ao passo que os americanos ficaram no sul. Então, Coréia do Norte declarou independência e ficou decidido que ia permanecer separado e tudo o mais. Aparentemente, para leigos desinteressados, ia ficar do mesmo jeito. Mas acontece que um lindo exército atacou o outro (nas versões oficiais, diz-se que quem começou foi Coréia do Norte, mas a gente sabe que história nunca tem UM culpado) e começou a chamada Guerra das Coréias, em 1950. Em poucos meses, o exército do norte já tinha invadido tudo do sul e, claro, os EUA ~ salvadores do mundo -n~ tomaram providências e deram uma ajuda aos sul-coreanos e conseguiram conter o avanço nortista. Não demorou muito tempo e a mesa virou de vez: o exército sul-coreano que avançou totalmente pro norte e pegou quase tudo, só que aí chegaram na fronteira com a China.

E então a China achou que aquilo tava virando putaria já e entrou na guerra, para ajudar os norte-coreanos e avançaram again. Nesse lance, pegaram a Seul novamente (que hoje é a capital da Coréia do Sul). E novamente, americanos e sul-coreanos ficaram mais putos ainda e conseguiram recuperar a Seul. Em 1953, os ataques cessaram. Isso quer dizer que foi assinado um cessar-fogo. Importante ressaltar: não foi assinado um acordo de paz. Isso quer dizer que, oficialmente, a guerra nunca acabou. No final das contas, Pyongyang ficou como capital da Coréia do Norte e Seul como capital da Coréia do Sul. E os sobreviventes tiveram que velar mais de 3 milhões de coreanos que morreram no conflito. E hoje, depois da Guerra Fria, temos uma Coréia do Sul mega-super-hiper-desenvolvida, toda high tech, com bons índices de crescimento e temos uma Coréia do Norte em um regime tão, mas tão fechado que não temos nem idéia de como as coisas REALMENTE são por lá. Claro que tem sempre uma matéria babaca pra falar de como lá é horrível por causa do regime comunista e ditadorial e eu não duvido disso, mas ninguém tem uma noção de como as coisas realmente funcionam lá. É realmente um país muito fechado. Só sabemos que há uma ditadura, que é um regime comunista (que não anda bem de pernas) e todos tem receio.

Em suma, Coréia do Norte e Coréia do Sul vivem uma relação muito, muito complicada.

Link
fronteira entre as duas Coréias.

Quando eu vi esse vídeo pela primeira vez, fiquei com a pulga atrás da orelha. Eu realmente achei que poderia ser uma indireta à situação na Coréia do Norte. Eu não faço idéia se estou certa (até porque na análise que encontrei no fan-site da girlband, não tem nada falando sobre a guerra), mas eu acho realmente interessante essa idéia. Essas girlbands tem uma fama de serem superficiais por toda a imagem perfeita que possuem. A letra me faz pensar mais ainda. Óbvio que você pode pegar a letra como dois amantes ou algo assim. Mas, creio eu, faz um pouco mais de sentido se tentar ler a letra meio como a Coréia do Sul falando com a Coréia do Norte. Repare um trecho que peguei de um fan-site brasileiro da Brown Eyed Girls:

Apenas me siga enquanto eu te escolto
(Novo Mundo) Olhe para isto se você não acha que irá experienciar algo mais obscuro
(Me siga) uh (Diga meu nome) um pouco mais alto
Você não vai me esquecer, cante pra mim querido
(Me siga) está certo (diga meu nome) gracias
Consegue seguir?
Você não será capaz de esquecer isto depois de ouvir
Outra música vai se tornar entediante
(Levante os braços!) Pare e atire!


Fonte da tradução: Just BEG



Temos o portão negro com as paredes brancas, e asas imensas e negras - de uma gárgula? Evidentemente um imponente palácio, pertencente à uma pessoa rica ou algo assim. Temos uma câmera de vigilância - já temos, aqui, o conceito de observação, vigilância constante 24h que é repetido no vídeo todo. E então temos as quatro integrantes do grupo, cada uma representando algo diferente. De acordo com a liricista Kim (que colaborou na música), há vários conceitos que ela explica muito bem. Primeiro ela nos lembra que a história do vídeo não é linear, seguindo uma ordem de sequências. Cada garota representa algo diferente e não é necessariamente antes, durante ou depois dos eventos. De acordo com ela, a Jea está presa nos galhos, representa o sacrifício. A Miryo é a "reveladora das mensagens", sendo a rapper principal - tem os microfones enfileirados diante dela. A Narsha incorpora o sexto sentido em si, sendo a parte animalesca (sua roupa de oncinha esclarece bem isso), e a Ga-In, acorrentada na cadeira, representa resistência.

Então, nessa análise, estou pegando muito dos significados que a Kim nos deu para montar a minha própria interpretação, tendo o contexto político em mente.




Pensando na guerra real, é fácil associar os soldados da tropa de choque e o ditador que aparece mascarado em alguns frames como o ditador da Coréia do Norte ou como uma representação física do "Absoluto" (como Kim chama), da mentalidade de prisão, censura, vigilância total. Ele é o chefe. Seu símbolo é uma estrela de seis pontas, sendo uma delas vermelha. Usa uma máscara dourada - mentira, farsa, alienação. Temos os jornais colocados e pichados, tendo palavras e frases como BREAK OUR HEARTS, YOU HAVE A VOICE, THE SUN (alusão ao tablóide britânico?), FEEL WATCH PLUS, I REMEMBER SPELLING OUT OUR / OWN PRIVATE RESISTANCE, SIXTH SENSE, IN A WORLD MEANT TO BREAK. Temos o pano vermelho atrás do ditador, sendo a cor predominante da tropa de choque e do ditador que aqui chamaremos de Absoluto.

De um lado, as tropas de choque uniformizadas, enfileiradas, organizadas, tendo os holofotes e o símbolo. Do outro, temos as garotas com vários rapazes em volta, de queixo erguido, com jornais: um muro de palavras atrás deles. É a arma deles, é o que elas tem para se defenderem. A tropa de choque avança contra pessoas desarmadas - e isso é obviamente uma constatação óbvia do quão covarde um regime militarista e ditadorial é. As garotas não estão armadas, elas só tem a música. Mesmo assim uma tropa inteira de homens vai pra cima delas. Mas elas só começam a cantar quando mostra a Ga-In, acorrentada na cadeira, tendo uma câmera diante dela, a registrando. De acordo com a liricista Kim, Ga-In possui uma história anterior: ela usa a jaqueta militar do amante dela que morreu, e acaba sendo acusada de traição e subversão, sendo, então, presa, humilhada, torturada e abusada. Ela está assustada, mas diz que não é submissa. Nunca foi, nem será - e a mesma artista diz isso diante das tropas. Podemos notar sua força não se rebaixando a nenhuma forma de prisão.






A foto acima é do exército norte-coreano.

Em seguida, é a Narsha que se comporta como uma fera selvagem. Ela "foi dirigida para agir o mais selvagem possivel para o video", diz Kim, e isso é visível: com sua roupa de oncinha, unhas lixadas como mini-garras, o cabelo desfiado e castanho-meio-loiro, a maquiagem que lembra um felino. Depois da Narsha, temos a Jea presa nos galhos. Vagamente todos os galhos e tudo o mais, vistos de cima, me lembraram a coroa de espinhos que Jesus usa na crucificação e tudo o mais e isso combina com o que Kim disse, sobre Jea representar o sacrifício em si. Ela diz também que, diante das tropas de choque, Jea significa a música, sendo a líder, a que representa a vontade da música se rebelar. Jea, aponta Kim, é a única que não se rebela diretamente como Narsha, Ga-In ou Miryo fazem. Isso diz algo sobre a personagem de Jea dentro desse vídeo.

Nessa parte, cantam que "a música ocupará o vazio entre nós dois". Seria como se elas falassem que a música ajudará na aproximação entre as duas Coréias? Isso não seria de todo estranho, porque quem sabe um pouco de história entende que a arte, de modo geral, tem importância nas revoluções. Livros, músicas, peças de teatro - tudo é escape de uma situação, forma de expressar desagrado, revolta e/ou insubordinação a algo. Música também pode ser política, e talvez seja disso que as garotas falem. De se aproximar da outra Coréia - que não sei como elas vêem essa situação, mas eu imagino que seria como países irmãos e separados pelas brigas. Mas mesmo assim um irmão - ou irmã. Se eu fosse desenhar uma história que países seriam pessoas, eu colocaria as Coréias como duas garotas irmãs. Depois vem uma parte da música que eu gosto: "mais do que um sentimento, uma sensação de tirar o fôlego". Qualquer um interpreta isso como uma garota falando ao seu amante de como o enlouquecerá e o tirará do sério. Mas eu, sempre viajando na maionese, não acho que seja amor ou paixão ou tesão ou qualquer coisa que venha de um casal, e sim de liberdade.

Para um povo que vive preso, manipulado, acorrentado ao que o governo diz em um regime que não pode fugir, liberdade é simplesmente embriagante. Não é simplesmente algo pra sentir (a despeito da clássica frase de Clarice Lispector que diz que "liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome"), é algo além, indescrítivel, de "tirar o fôlego". Nesse contexto, a música e tudo o que eu estou pensando cai muito bem. Mais tarde, elas dizem que "esse sentimento que pretendo compartilhar transcede os limites da emoção". Mais uma vez, penso em liberdade, mais uma vez eu penso nos sul-coreanos dizendo isso aos norte-coreanos. Penso nelas falando não com namorados, mas com todo um povo - apresentando algo à eles, dividindo algo melhor do qualquer coisa e, para isso - e para isso serve o vídeo - tendo que se rebelar contra o sistema.

Nesse ponto do vídeo, as coisas estão simplesmente ficando tensas. As correntes de Ga-In são mais focadas e podemos perceber que Jea não está exatamente tranquila presa nos galhos, com toda a água, parecendo que vai se afogar. O vídeo está chegando ao que eu chamo de clímax. Há uma pequeninha parte que eu gosto, que é a de um gato preto andando no muro e depois saltando. Eu não consigo achar muita coisa sobre o que o gato significa na Coréia do Sul, mas eu achei um texto pequeno aqui que fala que o gato era venerado pelos budistas pelo auto-domínio e meditação pelos primeiros budistas (budismo é uma religião predominante na Coréia do Sul, apesar do número de cristãos estar crescendo). Em um blog, eu achei um texto que fala sobre significados em brasões e diz que gatos geralmente significam liberdade, vigilância e coragem (e todos os conceitos batem com o do vídeo, mas é um blog ocidental, logo...).





Vamos interpretar dessa forma e prosseguir. Repare que o gato pula o muro e do muro dá pra ver um pedaço da casa: ele está no ambiente da Miryo, a dos microfones. Mas depois Ga-In canta para os soldados pedindo para "beijá-la ao estilo francês" que significa, basicamente, de língua. Narsha aparece novamente, com mais destaque: dentro desse quarto em tons quentes, deitada na areia onde dança sensualmente, rodeada de coisas que parecem mini-televisões. Eles emitem flashes, o que, de acordo com a Kim, é pra dar mais ênfase à questão de estar sendo observada sem descanso. Narsha é felina, sabe que está sendo vigiada e parece, por um momento, até gostar disso. Ela é o sexto sentido encarnado.

E então, logo depois de uma visão de Jea aprisionada sendo puxada para baixo pela chuva, lago, galhos e tudo o mais, temos a seguinte frase entoada "no sonho, cujo o qual você guarda segredos... eu sou capaz de adentrá-los inconscientemente" e é bem nessa parte que um soldado da tropa ergue um pouco do seu capacete. As garotas tinham - lembrem-se - só as palavras ao favor delas. Elas não são como os governos das Coréias que tem mísseis e direto um míssel "cai" no terreno do outro. Elas são o povo, que não vai ter como se defender caso aconteça uma guerra. Elas tem a música e música é uma mensagem inconsciente. Politicamente e viajadamente na maionese falando, é a Coréia do Sul tendo sua mensagem ouvida na Coréia do Norte - e realmente fez estremecer a estrutura. O soldado ergue seu capacete, isso já faz com que ele abaixe a arma e ouça mais. E então temos a proposta de um novo mundo e a Miryo, diante dos microfones, acorrentada pelos pulsos e é interessante observar que cada corrente é atrelada a um leão de pedra - leão significa poder em qualquer lugar do mundo, devido a toda sua majestade. O leão é a autoridade a que ela está presa, e os microfones significam que ela tem que dizer algo. Não pode simplesmente ficar calada. Miryo tem o papel de rapper do grupo, então ela tem destaque nessa parte: está convidando alguém a começar um novo mundo, está sendo direta, quase autoritária. Ela é imperativa. "Cante pra mim, querido! Um pouco mais alto! Está melhor assim! Siga-me! Gracias!" em tom de ordem dão o tom da música. Não é só um convite, é quase uma exigência. No instante que ela diz que as "demais canções serão entediantes" e pede fogo, é o instante que ela se liberta - do poder, da autoridade, de tudo.




Ela está agindo por conta própria em nome do ideal dela. Ela atira (diante das tropas de choque), então, a máscara dourada do ditador e esse é o momento que a rebelião realmente começa. Os soldados começam a tirar as máscaras e se despir das armas, debaixo da chuva. A água tem um fator importante. Dentro do budismo, água significa pureza, serenidade, clareza. A água tem o significado de "limpar" não só as sujeiras materiais, como as imateriais - e isso se ajusta perfeitamente dentro do vídeo. A chuva é o momento que os soldados percebem o quão iludidos e enganados foram. É o momento da quebra total: Narsha chuta os microfones, Ga-In consegue fugir, Narsha joga uma mini-televisão pro lado, Jea parece (novamente) que está se afogando de vez, há mais gente dançando com as garotas e todos estão alvoroçados, sendo atingidos com enormes jatos de água, percebendo toda a trama de um ditador por trás e experimentando essa coisa que é além do sentimento, algo que nunca sentiram antes. A máscara dourada no chão representa a queda do ditador, porém...




... aparentemente era tudo uma fantasia. Tudo como um sonho, um desejo das garotas. A última cena é simplesmente a tropa de choque indo pra cima das garotas e acaba aí. Não sabemos, mas a mensagem fica embutida de que elas perderam, no fim das contas. Assim como a guerra: ela está acontecendo e não haverá vencedores se continuar desde jeito, normalmente estável, mas sempre com tensão no ar, desejos nunca completados, no fim das contas.

No fundo, Sixth Sense é sobre liberdade e revolução.



*** Não tem menção ao diretor ou diretora. Isso é porque eu não consegui descobrir quem dirigiu o vídeo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

apenas uma arte.

Eu devo um zilhão de desculpas por não ter postado mais no Lunalogia. Eu não tenho desculpas, só a mais pura e terna preguiça. Porque a preguiça é a mãe de todos os vícios. Mas eu decidi que nesse outubro, independente do que aconteça (minha escola sair da greve ou não), eu me comprometerei com o meu projeto da CNPq (muito, muito importante), com o Lunalogia e com os estudos. Em segundo plano, pretendo retornar com o Pernície e escrever uns livros (tenho vários projetos, nenhum está aos 50%, digamos assim). Confesso que sou extremamente relapsa, irresponsável, inconsequente.

Mas eu decidi que preciso melhorar (e confesso nesse espaço público que meu namorado me deu um ultimato: enquanto eu não terminar meu projeto, ele não virá à minha casa e isso significa tortura psicológica muito, muito cruel). Eu vou melhorar. Vou dormir mais cedo, acordar mais tarde, fazer posts pro Lunalogia independente de eu achar o vídeo chato ou não (eu estava fazendo análise de Hold It Against Me. Eu adorava aquele vídeo. E, de repente, passei a achar o vídeo um porre. Como se tudo fosse óbvio demais!). Vou fazer o meu projeto da CNPq (senão a CNPq me processará e me obrigará a devolver cada centavo que estão me pagando). Vou estudar para o ENEM. Vou ser uma pessoa centrada e responsável. Blanca, não ouse rir dos meus planos, porque estou falando sério, muito sério.

Enfim. Do que se trata esse post senão minhas desculpas e minha tentativa de redenção? Oh, apenas minha opinião sobre videoclipes.

Videoclipes são feitos para acompanhar músicas. Eles surgiram com o The Beatles, porque eles não podiam estar em todos os lugares ao mesmo tempo para tocar. Então eles fizeram um vídeo que acompanhasse aquela música e mandavam esse vídeo. Então os canais de TV passavam aquele vídeo. E isso se espalhou. Todos os artistas passaram a fazer. E o vídeo virou uma ferramenta visual, uma arte à parte. Há diretores, diretores de fotografia, roteiristas, maquiadores, figurinistas e engenheiros de efeitos especiais que vivem fazendo videoclipes de 4, 5 minutos. E particularmente sou apaixonada por eles.

Por que eu sou apaixonada por videoclipes? Basicamente porque eu considero que videoclipe é a junção de duas artes que eu amo de todo o coração: cinema e música. Saber fazer um vídeo é muito mais do que colocar uma câmera e uma cantora dançando sensualmente na frente dela. É uma arte. É absolutamente incrível como tantas pessoas se dedicam a produzir uma sequência de cenas, várias descartadas, para algo que pode ser inútil. Que pode não ter sucesso. Que pode ser ruim, rejeitado, esquecido. Ou pode ser louvado. Pode ser lindo. Pode ser fabuloso. Pode ser revolucionário. Pode mudar tudo. Quem diria que Thriller seria tão copiado assim? Quem diria que Single Ladies teria sua coreografia tão exaustivamente copiada até por bebês? Então, sabe, eu decidi fazer esse blog. Mas porquê?

Assim como filmes e livros, videoclipes também toda uma mensagem por trás. Eles carregam conceitos não só do artista, mas também do diretor, roteirista, e tantas outras envolvidas. Assim como há filmes vazios, há vídeos vazios. Mas ainda assim todos eles falam ALGO. E esse algo me fascina. Mas não vejo muitos blogs de análises de videoclipes por aí. Sabe, tem o FreakShowBusiness que simplesmente analisou Bedtime Stories e Telephone de uma forma que me deixou de joelhos. Eu não ouso falar desses vídeos depois do que foi dito. Mas o foco do blog não é videoclipe, e sim o pop em geral. Tem blogs dedicados à música, outros aos livros, outros aos filmes, mas não vejo nenhum que fale 100% de videoclipe, sabe? Então eu me resignava em ler análises em um blog conspiracionista cristão e, digamos, não era uma boa opção, mas era a que eu tinha encontrado. Eram análises longas e detalhistas, mas cheias de preconceito e aquele insuportável tom conspiracionista. E eu meio que percebi que a maioria das pessoas não entendia os videoclipes. Eles não entendiam o que as cantoras do pop queriam dizer, e não tinha ninguém pra dizer "olha, isso foi inspirado nisso e aquilo", mas sempre tem esses blogs conspiracionistas para afirmarem, com certeza, de como esses videos são cheios de referências ocultistas. E o que as pessoas farão? Elas acreditarão.

É por isso que eu quis fazer esse blog. Eu só queria dar uma interpretação minha - que não inclui nenhum ritual macabro de satanismo. Eu só queria chegar e dizer 'hey, gente, que tal esse ponto de vista?'. É isso que eu quero fazer nesse blog. Porque eu estou cansada de ver os fãs de Lady Gaga tentando interpretar os vídeos dela e todos agindo como se isso fosse ridículo, porque, hey!, não é! Não é ridículo você tentar entender o porquê de sua artista ter dançado entre crucifixos pegando fogo. Não é ridículo você procurar as referências artísticas de seu artista para sacar o que ele quis dizer. Não é ridículo tentar pensar como aquilo se relaciona à música! É cultura, e não é só "coreografia + carão + fogo/água/qualquer coisa". É uma obra de arte que merece ser analisada, assim como filmes e livros.

Em suma, concluo meu post que vai, oficialmente, restaurar esse blog já com aranhas, apesar de ser tão novinho. ♥


fonte: we ♥ it

terça-feira, 30 de agosto de 2011

3 Words - Cheryl Cole ft. Will.I.Am [Vídeo do Dia]

Inaugurando uma nova tag! Vídeo do Dia serve para que eu poste um videoclipe, fazendo algumas observações a respeito - não como uma resenha, mas como comentários gerais. É uma seção menor e mais prática e pretendo usá-la para suprir o vácuo de postagens que existe (e continuará existindo) entre as análises. O videoclipe pode ser de qualquer gênero, pode ser muito conhecido ou não, pode ser de qualquer época, de qualquer cantor. Não existe nenhum critério para eu eliminar um vídeo, nem mesmo meu gosto pessoal - eu não preciso gostar de alguma coisa para que essa coisa seja boa.

Enfim, eu inauguro essa tag com 3 Words, videoclipe que vi esse domingo e me maravilhou.



Artista: Cheryl Cole feat. will.i.am
Diretor: Vincent Haycock
Ano: 2009

Eu realmente amei esse vídeo na primeira vez que o vi. Sem nenhum pudor, eu tenho a opinião de que ele é um dos melhores vídeos que eu já vi na minha vida. A edição é primorosa, combinando cuidadosamente para as cenas se diferenciarem e se fundirem, e a fotografia, produção, tudo é muito bem cuidado. Eu achei uma bela metáfora sobre o amor - Cheryl e Will.I.Am estão em mundos diferentes, realidades diferentes, apesar de terem os mesmos sentimentos. Os dançarinos mascarados, as estátuas, a roupa preta de luto incluindo até o véu e a peruca branca reforçando isso, o enorme vitral em tons alaranjados e depois os dançarinos sem as máscaras, sendo que os lençóis que envolviam sua cabeça são agora parte da dança, leves: tudo é belo.

Considero que é um daqueles vídeos que não importa quanto tempo passe, continua lindo e atual. É um vídeo que não precisa ser situado, sua metáfora vale por si só. Sabe, quando eu vi o vídeo na primeira vez, eu não fazia idéia do que realmente significava. Depois de ler a letra da música, os comentários de alguns fãs e pensar um pouco, acho que eu posso dar um palpite a respeito. Eu penso nos dançarinos como o amor: um amor escondido, intenso, precisando se libertar e as cenas finais meio que confirmam minha linha de pensamento: eles estão livres, mais soltos e tão intensamente como antes. Porém a realidade de Cheryl e Will.I.Am só se funde uma única vez: quando ela está vestida como se estivesse de luto. Mas os dois estão de costas um para o outro e mal chegam a se tocar. Cada um ama o outro intensamente - e os dançarinos demonstram isso, sejam mascarados com os lençóis brancos ou com os véus de luto, sejam sem máscaras, eles estão ali ao redor dos dois e tem até mesmo uns poucos frames que mostram uma dançarina que "invade" a outra realidade. As estátuas aos moldes gregos contemplam o amor que nunca será concretizado (o que é engraçado se a gente parar pra pensar que a letra fala de um amor feliz, não um que não é realizado), indiferentes ao casal. E devo dizer: não consigo imaginar esse vídeo sem Will.I.Am. Parcerias são uma coisa delicada, porque para dar certo, é necessário que os dois artistas tenham química entre eles para realmente fazer do produto final uma coisa inimaginável. Lady Gaga e Beyoncé são uma dessas parcerias que deram certo em Telephone (a ponto de não conseguirmos imaginar Telephone sem Beyoncé), mas a banda Maroon 5 e Christina Aguilera não formaram uma parceria tão boa no vídeo de Moves Like Jagger (ela aparece tão pouco e não se pode dizer que ela REALMENTE tem química com Adam Levine). Porém mesmo que Cheryl Cole e Will.I.Am não se toquem nem nada e poderiam perfeitamente terem feito o videoclipe separados, em dias diferentes, é visível que os dois realmente atuam de forma a tentarem entender o outro.

Em resumo, é um excelente vídeo. Cheryl Cole tem outro vídeo que eu realmente gosto muito, chamado Parachutes, e ela parece ser uma artista talentosa no que faz. Quanto ao Will.I.Am não conheço muito bem, porque não vejo muitos vídeos do Black Eyed Pies para ter qualquer opinião (vi somente Where is the Love e My Humps. Não vou considerar os que vi de Fergie como Big Girl Don't Cry). Mas, finalizando, espero que mais vídeos assim sejam produzidos - com um bom conceito, cuidado com a produção, fotografia, edição, etc. Já basta desses clipes feitos a partir de ensaios de fotografia, certo, Madonna?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Can't Be Tamed - Miley Cyrus

Depois de muita demora, eis a próxima análise! Eu estava em dúvida: Yoü and I ou Hold It Against Me? De um lado temos o videoclipe mais recente de Lady Gaga que, por si só, é um prato cheio para esse blog. Do outro, temos o primeiro single do álbum recente da princesinha do pop. Mas eu acabei revendo um vídeo de 2010 e acabei optando por ele, e eu totalmente entendo se vocês pensarem "wow, Luna, porque uma Disney Star?". Mas acontece que eu tenho uma paixonite por Can't Be Tamed, de Miley Cyrus. Eu gosto dele. E eu acho ele tão digno de uma análise quanto Yoü and I ou Hold It Against Me.

Como vocês sabem, Miley Cyrus é americana, filha de um cantor country muito conhecido por lá, o Billy Ray Cyrus e começou a realmente brilhar na série Hannah Montana. Vamos pular essa parte da biografia dela porque ninguém merece que a gente lembre o passado Disney que a coitada só entrou porque era nova demais pra pensar no quão ridículo é algumas coisas da Disney. Vamos pensar em Can't Be Tamed, primeiro single de álbum com mesmo nome, lançado em 2010 e tinha como proposta principal dizer "oi, eu cresci". Miley definitivamente saiu das asas da Disney para esse novo projeto que só teve dois singles e atualmente o número de vendas beira entre 1 milhão e 1 milhão e meio, venda considerada boa já que o álbum já tinha morrido no segundo single. A canção fala, basicamente, sobre liberdade, autonomia, ir além do usual. É sobre uma Miley que quer, desesperadamente, fugir de todos que querem protegê-la, modificá-la, adequá-la à sociedade e ser ela mesma. Segue um trecho da música (porque o refrão é repetitivo, só tem três frases ordenadas de forma diferente):

Eu quero voar eu quero dirigir eu quero ir
Eu quero ser parte de algo que eu não conheço
E se você tentar me segurar eu posso explodir
Baby, agora você deve saber


[Tradução: Vagalume]

O videoclipe foi dirigido por Robert Hales, um cara britânico. Por ridículo que pareça, não consigo achar o website oficial do cara, então se você clica no nome dele, é direcionado à Wikipédia em inglês. E eu confesso que fiquei com preguiça de ver todos os videos, depois que resolvi ver o mais recente que juro pelo Back to Basics todinho que foi o vídeo mais chato que já vi na minha vida. E olha que Edge of Glory tá na parada - pelo menos Lady Gaga tá dançando loucamente. Nesse vídeo, a câmera só vai se afastando loucamente da terra. Só. Se você não acredita em mim, clique aqui. Então você entende porque eu fiquei com preguiça e também querendo adiantar a análise. Prometo que no próximo clipe dirigido por esse cara que for analisar, eu assisto outros deles. ^^~



O videoclipe tem uma temática simples e muito do que eu digo aqui é óbvio para fãs, mas Lunalogia nunca propôs ser original. Inicialmente o vídeo é situado em uma exposição de arte, os
visitantes representando uma alta sociedade: estão vestidos de gala, em um evento importante. Não será exagero mesmo se eu achar que todas essas pessoas, meras observadoras, representam a elite (dentro do contexto de Can't Be Tamed, da "elite" musical: produtores, empresários, todos aqueles que detém poder dentro da indústria da música). Em alguns frames, uma mulher dessa elite conversa com um cara de smoking e tudo. O detalhe interessante: a cabeça dela está dentro de uma gaiola, meio como se ela fosse um passarinho. Mas não é ela inteira, e sim só a cabeça. De certa forma, significa que aquela pessoa simboliza prisão mental - não no contexto de Disturbia, mas no sentido de que aquela mulher é manipulada de acordo com os interesses da elite. Ela não é livre mentalmente, mas pela sua naturalidade e adequação ao ambiente, ela não realmente acha que está presa ou algo assim. Há outra mulher em que a gaiola está acima da cabeça dela, presa. Mesmo significado: prisão. E então o apresentador apresenta (redundância!) uma nova espécie, raríssima: Avis Cyrus. A cortina se levanta e uma enorme gaiola é exibida.

Há um ninho onde Miley está. Ninho tem sentido de casa, lar. Ela está em um ninho = ela está protegida, amparada. Ela tem pra onde voltar, e relacionado à vida de Miley, simboliza a sua
estabilidade enquanto era Hannah Montana, ao fato de que antes ela era uma garota protegida do mundo, tendo uma gravadora investindo horrores nela e toda a mídia ao seu favor. Isso tudo forma o ninho dela - físico, financeiro, emocional. Mas quando Miley decide que é uma garota crescida e não precisa mais disso tudo, então ela mostra que está saindo do ninho, levantando vôo com as próprias asas. É por isso que Can't Be Tamed é tão adequado para expressar essa transição. De volta ao vídeo, Miley se ergue e encara a todos. A elite aplaude, e alguém tira fotos (não vou debater como ninguém diz "mas isso não é uma ave! é uma humana!" no primeiro momento) e ela reage se escondendo com as imensas asas negras que possui. Todos reagem com medo: não querem conhecer essa ave pronta para sair do ninho. Começam a fugir.



E então tem os dançarinos. A vestimenta é algo que realmente admiro nesse vídeo. Miley não parece uma caricatura de uma ave, e sim uma ave-humana e se move como uma. Digo a mesma coisa dos dançarinos: todos eles usam adereços lembrando aves. Todos eles representam a busca pela liberdade. Primeiro Miley está sozinha diante de um ninho e uma árvore (o simbolismo da árvore é bem simples: suporte ao ninho ou no sentido de "mãe natureza, geradora de vida". Nada que precise ser aprofundado), depois um fotográfo surpreso e corta pra
Miley novamente, mas agora as asas delas se erguem e mostram vários dançarinos: ela não está sozinha nisso. Todos começam a se afastar, dando aquela olhadela básica de choque e surpresa, mas ainda assim curiosidade. Ela não está nem aí: está presa na gaiola, ela e seus dançarinos, mas não ficará ali muito tempo. E aqui, nessa dança, há várias insinuações sexuais.

Bem, nós vivemos em uma sociedade que sexo é considerado uma espécie de parâmetro para definir se a pessoa é madura ou não (eu, particularmente, acho falho. Fazer sexo só precisa de hormônios em erupção, não de maturidade emocional), mas não é isso que Miley está querendo dizer. Ela está querendo passar a mesma mensagem que Christina Aguilera em Dirrty ou Britney Spears em I'm Slave 4 U: "HEY, SEUS FDPS, EU CRESCI! EU FAÇO SEXO AGORA, EU PAGO MINHAS CONTAS E FODA-SE O QUE VOCÊS ACHAM!". É um choque para crianças acostumadas com Hannah Montana assistirem Can't Be Tamed e perceberem que Miley realmente cresceu.

As pernas de fora, as insinuações e o brado de "can't be tamed" repetem a mesma coisa: você não pode mudar Miley para ela ser do jeito que você quer. Ela vai agir como ela quiser agir e você simplesmente não pode fazer nada a respeito. Ela não pode ser domada, nem modificada, nem ser considerada culpada de algo - ela está em seu direito de fazer o que bem entender. E então os dançarinos fogem, assim como ela, e há uma espécie de dança retorcida nos corredores. Nas paredes, você vê obras de arte e peças em exposição protegidas por vidro - tudo sendo quebrado, ameaçado. Com essa ação, é meio como se avisassem "hey, tomem cuidado, nós vamos arrebentar tudo isso". A elite está vendo algo que mantém com tanto zelo sendo destruído: a ordem, a moral, o trabalho.

Por que a ordem? Porque a indústria da música é má. Ela exige que seus cantores e compositores se mantenham na linha, que sigam todas as recomendações, que nunca se rebelem. Basta ver como a gravadora reagiu quando Britney tentou se rebelar: arquivou o projeto Original Doll que, provavelmente, seria o melhor álbum dela. Por que a moral? Porque a sociedade americana (englobando os EUA e o Brasil, de certo modo, porque copiamos muitas coisas deles) é hipócrita em geral. A "moral" é algo muito importante, ainda mais quando é uma mulher. Quando Miley quebra a imagem da Hannah Montana, ídolo infantil, de forma sexual, ela está ferindo a santa moral dos americanos. Ela está desviando do caminho que a maioria dos americanos considera decente e, por isso, ou é muito rejeitada ou é muito idolatrada. Por que o trabalho? Não estou falando do trabalho de emprego, etc. E sim do trabalho que custou para criar essa imagem de boazinha e virgenzinha que Miley teve tanto prazer em quebrar. Ou você acha que essas gravadoras não tem um trabalho do caramba quando tem que cuidar da imagem de alguém? Imagina a gravadora que cuida de Selena hoje? A gravadora tem que cuidar da imagem dela de boa moça e ela não pode simplesmente ficar pouco se lixando pra isso.

Bem, o vídeo é curto e não tem muitas tomadas, então dá para ir direto para duas cenas: o pavão e uma que ela está com vários dançarinos ao redor. Nessa que ela está com vários dançarinos, podemos ver um bode. Para algumas pessoas, isso significa satanismo, mas eu vejo de forma inocente e simples: ela está em uma posição de poder, sendo a protagonista entre os vários dançarinos que a rodeiam. Bode é um animal muito complicado: em termos pagãos, significa fecundidade e libido sexual, sendo um símbolo carnal (o que combina com a atmosfera do vídeo). Os chifres simbolizam poder. Logo Miley, uma ave, está encarnando esses conceitos mais terrenos. Algo assim. (e que venha os conspiracionistas imbecis dizerem que estou tentando tapar o sol com a peneira!) Simultaneamente temos uma Miley que canta em um corpete prateado deitada em um negócio como se fosse uma imensa, mas IMENSA cauda de pavão. Dando uma pesquisada sobre o que o pavão pode significar, simbolicamente falando, dá para descobrir vários significados diferentes e, surpresa!, quase todos eles se enquadram no contexto. Primeiramente, um pavão perde as penas no inverno e as ganha na primavera, e isso fez com que vários povos tivessem ele como símbolo de renascimento, renovação. Quando Miley se compara à uma ave e, por acaso, é um pavão, ela não quer dizer isso? Ela não quer expressar seu renascimento de uma forma metafórica? Dentro do budismo, existe uma coisa chamada "bodisatva" que é um ser que transcendeu coisas ruins como inveja, ódio, rancor e vive entre nós, sendo evoluído espiritualmente, para nos ajudar a evoluir também. Aparentemente um dos símbolos para tal coisa é um pavão. Não acho que Robert Hales ou Miley Cyrus tenha dito "olha, pavão significa evolução espiritual, bora usar?", mas eu gosto da coincidência - afinal todo mundo quer evoluir como pessoa. Eu gosto do fato de que pavão simboliza renascimento, vaidade, prosperidade, fertilidade e todas essas coisas passam uma energia boa - que é a que Miley deseja em sua nova etapa, quando ela sai do ninho para andar com suas próprias pernas.

E assim temos o final, com Miley sozinha em seu ninho. Ela voltou por conta própria? É curioso que ela não termine o vídeo livre, e sim em seu ninho, no mesmo local, mas com holofotes (que simbolizam a atenção dedicada à ela) apagando e faiscando e o local vazio. Talvez seja algo como Miley refletindo sobre sua liberdade em seu ninho, onde está segura. Ou talvez seja somente estético. De qualquer modo, Can't Be Tamed principia uma era que, provavelmente, acabou em uma turnê mundial (que até passou aqui no Brasil) dando uma mensagem bem clara aos fãs e aos haters: Miley cresceu. E ela definitivamente nunca mais será a doce garotinha de Hannah Montana.




Não sou louca: Simbolismo do Pavão

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Disturbia - Rihanna

Olá! :)

Hoje a análise é de um videoclipe de uma cantora pop que não é americana, mas faz sucesso feito uma: Rihanna. Eu simpatizo com ela não sei exatamente por quê. O vídeo em questão é o Disturbia. A música foi lançada para o relançamento do álbum Good Girl Gone Bad, sendo o terceiro single do relançamento em si e o sétimo single se for contar todos. O primeiro single desse álbum (contando tudo) é o hit Umbrella, música pela qual Rihanna é conhecidissíma. Quando eu vi Disturbia pela primeira vez (há bastante tempo), eu achei que era um single do álbum Rated R porque ele é meio sombrio, dark, esse clima de "trevas, escuridão e terror moram dentro de mim". Sabe, eu associava a capa de Rated R com o videoclipe de Disturbia. Mas quando eu resolvi analisar, descobri que é ainda é do terceiro álbum que ainda tem aquela coisa de garota hiteira que faz todos dançarem.

Para se ter uma idéia, a música foi escrita junto com Chris Brown. Ou seja, não tem aquela coisa toda de Rated R. O vídeo é produzido pelo cara de Rihanna, Anthony Mandler (e vou te contar: achar o site oficial dele é uma merda, porque o safado coloca algo genérico como 'letsfilms' para o site). Eu o chamo de o cara de Rihanna porque ele dirige quase todos os vídeos dela, sem brincadeira: Take a Bow, Rehab, Wait You Turn, Russian Roulette (que vai receber uma análise, tá até na listinha na sidebar), Te Amo, Only Girl, California King Bed e Man Down. Dá para sacar, então, o quão o cara é O CARA DE RIHANNA? Ele é isso. Mas pelo site dele, deu para perceber que enquanto Rihanna tira uma folga, ele dirige outros videoclipes como You Lost Me, de Christina Aguilera, Irreplaceable de Beyoncé, Maneater de Nelly Furtado. Eu ~ particularmente (pelo pouco que vi do trabalho dele) ~ acho que ele realmente só funciona com Rihanna. Man Down é um ótimo vídeo -s (gosto é gosto, desculpa aí)

Clique nas capas de single abaixo para conferir os trabalhos citados do cara + Man Down :)




Enfim, o vídeo! O título da música traduzido é "Paranóia" e a música certamente é bem perturbadora. Aparentemente trata de medo, paranóia, fobia. Como uma constante sensação que alguém está atrás de você e nada, nunca é seguro. O vídeo, certamente, é uma boa expressão dessa atmosfera sombria. Eis o refrão traduzido:

[Dentro da sua mente]
Está paranóica
É como se a escuridão fosse a luz
Paranóia!
Estou assustando você essa noite?
[Dentro da sua mente]
Paranóia
Eu não estou acostumada ao que você gosta
Paranóia! Paranóia!

[Tradução: Letras Terras]

Temos, então, o vídeo que foi dirigido por Mandler e por Rihanna (dupla dinâmica). Assista-o e absorva o conceito dark, surreal, paranóico da coisa.



Primeiramente, esse vídeo é a MINHA visão. Não achei em nenhum lugar uma interpretação realmente consistente, só achismos de fãs, então eu meio que não tenho nada pra confirmar ou negar o que estou dizendo. Essa interpretação minha PODE estar errada, mas é uma que eu tirei após ver o vídeo várias vezes. E vamos dizer que não achei o vídeo exatamente fácil, e há muitas lacunas nesse texto. Mas de qualquer modo, vamos lá. Primeiro: o vídeo é a retratação óbvia da "paranóia" (o título, a letra da música diz isso). Então vamos esclarecer o que é realmente paranóia: é uma psicose em que você começa a ter delírios dentro de uma lógica, e isso começa a crescer de uma forma que se perde o controle. A paranóia pode ser associada à muitas coisas: achar que seu vizinho é um serial killer (por sinal, sinopse de um filme chamado Paranóia), achar que seu namorado está te traindo, achar que todos querem te derrubar. Você se perde nesse delírio, mas ele é real, crível e verdadeiro para você. A paranóia não tem que vir com alucinações ou algo do tipo. É algo que acontece dentro da cabeça da pessoa.

Então temos o vídeo com várinas personas de Rihanna. Primeiro vemos a persona matrona: Rihanna está de preto, dominadora, usa um leque para se abanar. Ela está no centro. Se eu pensar que o vídeo é a retratação de, digamos, psique de uma pessoa paranóica (ou várias psiques), talvez essa persona rainha (vamos chamar assim) possa ser a representação consciente, perversa, a que mantém as outras personas em estado de tortura. Ela é a única que não está sendo torturada, acorrentada, presa. Ela é a única que está totalmente à vontade. É o mundo dela: de perversões, crueldades, idéias distorcidas. Para ilustrar mais ainda, ela se senta em uma cadeira que é ornamentada com chifres. Parece que são chifres de bode. Antes que você diga "oh ela é satânica, bodes são dumaw", deixa te lembrar uma coisa: desde os primórdios da humanidade, chifre simboliza poder. O motivo é puramente biológico: entre animais chifrudos (bodes, carneiros, touros), um chifre é um ótimo atrativo pros machos. Se você tem chifre, meu irmão, você é o macho alfa. O rei da manada.

Não é de se espantar, portanto, que chifres sejam associados à potência sexual e por tabela, ao poder. Isso, inclusive, é um significado bíblico e a Wikipedia (eu te amo, sua linda!) não me deixa mentir: E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. - Apocalipse 17:12

Logo, essa persona é a que manda tudo naquilo. Ela é a impiedosa, a que faz com que a mente continue naquele estado. Ela é a carcereira. Eu acredito que nas cenas que Rihanna aparece como se estivesse no Kadooment Day (é como o Carnaval no país de Rihanna, Barbados) é outra representação dessa persona. Ela está tão dominadora e consciente quanto nas cenas da persona na cadeira com chifres. Além disso seu cocar de penas lembra poder - e os povos primitivos sabem disso. Em filmes que retratam tribos indígenas, como você sabe quem é o chefe? É só ver quem tem o cocar mais espalhafatoso, com as penas mais bonitas. Podemos perceber que o poder é delimitado em Disturbia através de dois símbolos bem simples: chifres e penas.



Depois de ter entendido que tem essa persona dominadora, quem temos agora? Temos personagens (representados por outras pessoas) e temos as outras personas de Rihanna. Temos a loira com os olhos brancos, como se ela tivesse os virado para trás. O estado dela lembra o da possessão demoníaca, mas eu acho que isso é muito simplista. Ela está em uma prisão com grades. Em relação aos olhos, temos outra alusão visível ao olho: tem um homem com um tapa-olho logo no começo, vestindo uma blusa listrada. O olho, por si só, pode significar muitas coisas. Dizem que o olho é "a janela da alma". Então nesse caso, o que significaria a Rihanna loira aprisionada com os olhos brancos? Com certeza não é uma prisão física, e sim a mental, a psicológica. Essa persona tenta seduzir um cara, mas é impossível: a Rihanna rainha está no controle. Os olhos podem representar perda de consciência sobre si mesma: afinal de contas como você vê o mundo? Eu vejo essa Rihanna loira como uma parte da mente dela que está presa dentro de si, não consegue realmente ver ao seu redor, perdeu a consciência. Ela é a representação da paranóia propriamente dita: cega e aprisionada pela Rihanna rainha. Ela não deve sair daquela prisão: a Rihanna Rainha não permitiria.

Temos, então, os personagens: o travesti que se abanha com um leque e ele usa tons de vermelho (maquiagem, figurino), o cara do tapa-olho (que está girando aquela coisa que esqueci o nome em navios) e pela roupa e pela ação, lembra um marinheiro, dois homens que estão sentados um de costas pro outro e outros como uma mulher acorrentada ao lado da Rihanna Rainha. Todos eles estão submetidos à ela. Todos eles representam algumas coisas individualmente. Eu não sei exatamente, mas eles me passaram aquela coisa de vícios. Veja, o travesti de vermelho me fez lembrar luxúria. Ela (eu sempre trato travestis por "ela". Não sei se é o tratamento ideal, e se não for, me corrijam) está feliz, cheia de lascívia, abanando o leque. O marinheiro... não sei dizer. Marinheiros tradicionalmente são associados com passagens, viagens, travessias, meio como um barqueiro. Também são associados com rebeldia, romance, paixão. Não importa: todos esses significados se encaixam em Disturbia. Porém mais intrigante são os dois homens? Rihanna Rainha passa por eles, dá uma palmadinha no ombro e eles o encaram indiferentes. Essa é uma parte que não consegui decifrar, nem imaginar um significado que faça sentido (que é o que eu faço aqui, na maior viagem na maionese).



Outras cenas interessantes da Rihanna Rainha incluem ela dançando com outros dançarinos que se movimentam de forma torta, lembrando zumbis. É um cenário quente e Rihanna é erguida pelos dançarinos lá em cima. Novamente, mais uma vez, ela está afirmando seu poder. Se formos levar isso numa interpretação mais viajada, os dançarinos representam a mente de Rihanna que continue erguendo, dando o poder à Rainha Rainha e por isso ela mantém o poder. Basicamente como uma forma da pessoa alimentar o próprio vício, problema ou, como diz o título da música, paranóia. Os dançarinos que se contorcem provavelmente são vítimas do poder da Rihanna Rainha, mas eles não se erguem contra, nem se rebelam, muito pelo contrário. Dançam com ela, se movimentam com ela e a erguem nas alturas, garantindo assim a escravidão (nesse sentido, escravidão mental). E ainda lembrando coisas quentes, em seguida, Rihanna faz uma óbvia alusão à queima das bruxas.

A caça às bruxas foi uma perseguição religiosa e social que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII principalmente na Alemanha, na Suíça e na Inglaterra. As antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. O mais famoso manual de caça às bruxas é o Malleus Maleficarum, ou "martelo das feiticeiras", de 1486.

[Fonte: Wikipédia]

De que modo isso se enquadra no vídeo? Muito simples. Rihanna não está dizendo que é, literalmente, uma bruxa. Mas dentro do contexto do vídeo, eu acabei lembrando de uma, apenas uma coisinha: Bruxas de Salem. Não conhece a história? Então vai lá: algumas meninas em Salem começaram a ter delírios, passar mal, visões, etc, etc, etc. Uma coisa espantosa mesmo, e nenhum médico conseguia descobrir o que estava acontecendo. Obviamente, em uma época que se associava o demônio a qualquer coisa negativa, a cidade começou a dizer que a culpa era do capeta. Porém como o capeta agiria? Através de bruxas. E a primeira a ser acusada foi a escrava Tituba (que tem sua nacionalidade em dúvida, mas vários acreditam que ela seja barbadiana, exatamente como Rihanna), porque aparentemente ela contava histórias da terra dela às garotas que foram vitimadas, o que seria pecado na época, porque Tituba, assim como vários outros escravos, não possuem raízes cristãs. O caso cresceu e virou um dos maiores exemplos de histeria em massa. As pessoas da cidade (e de vilas próximas) entraram em um estado de paranóia constante onde qualquer uma podia ser a bruxa, e mais de 150 pessoas foram acusadas. Houve várias execuções e os acusados vinham de todas as classes sociais.

Em suma: Bruxas de Salem ficou marcado como um episódio triste sobre como uma cidade inteira pode mergulhar em histeria profunda causado pelo fanatismo religioso, torturando e matando várias pessoas que nunca matariam se conseguissem pensar racionalmente por um instante. Eu não sei se Rihanna pensou em Bruxas de Salem (eu achei realmente interessante o fato de que uma das personagens mais importantes é considerada barbadiana pela literatura, ao menos), mas com certeza ela retratou o que o estado de paranóia e outros problemas podem causar. Nesses frames, ela não está nesse estado de paranóia, mas consciente. Ela é uma vítima: da histeria dos outros.



Temos, então, a retratação das vítimas da Rihanna Rainha. Temos a Rihanna que está com o manequim. Ok, sem nenhum guia de significados de símbolos e tal, vamos prosseguir e interpretar as cenas seguintes: os fios pretos se cruzam, tal como uma aranha. Pode significar apenas aracnofobia (fobia de aranhas) ou algo mais profundo. Discorreremos sobre isso mais a frente, deixe-me falar do manequim primeiro: o manequim, por si só, é um símbolo meio que novo. Não é algo tão antigo quanto, sei lá, aranhas. Mas manequim é a representação do ser humano em outro material, sem vida. Assim como bonecos. O que você vê ao pensar em alguém mexendo com bonecas? Talvez uma criança brincando com boneca seja só uma criança com boneca, mas Rihanna movendo o manequim ao seu bel-prazer em uma obra tão sombria e cheia de metáforas, o significado tá mais pra manipulação. Ela abraça o manequim, ama o manequim, quer o manequim. Ela quer ser manipulada? Ela sabe que está sendo manipulada? Ela sabe que toda sua psicoce é coisa de sua cabeça, que não existe? É apenas uma demonstração de poder da Rihanna Rainha que consegue manipular? Oh, tantas coisas pode significar um mero manequim!

Então temos uma Rihanna presa pelas paredes. Talvez seja só claustrofobia. Mas as aranhas que correm em seu corpo, os braços fundidos às paredes e o véu em seu rosto passam a mensagem clara: ela está aprisionada e não tem pra onde fugir. Ela tem consciência do que está acontecendo, mas não pode simplesmente sair correndo: está no reino da Rihanna Rainha e não rola de pedir pra sair. Mais adiante, temos uma Rihanna acorrentada pelos pés. Mas ela está tentando fugir. Ela tenta remover as correntes dos seus pés. É uma Rihanna que sabe que está presa em um delírio mental, uma fantasia psicológica e está querendo sair dali. O interessante é que nessa parte, a música já sai da descrição desse estado e ela canta: "estou tentando manter o controle / mas estou lutando / você não pode sair / oh, eu acho que tô saindo". Não é interessante ver que em certas partes Rihanna canta como se fosse a Rainha? "Você não pode sair" diz ela a si mesma. Mas ela pode, ela também diz a si mesma. E temos então o lobo e a aranha. O lobo é associado à Rihanna Rainha. Esse animal, por si só, tem uma carga negativa graças às histórias como as de Chapeuzinho Vermelho. Somos acostumados a pensar que o lobo traz a escuridão, fim, morte, terror. Que o diga o mito do lobisomem. Porém o lobo é considerado um animal sagrado para muitas religiões. Ele é um daqueles animais que os deuses sempre se transformam. Talvez não seja exagero pensar no lobo como representação da ferocidade, destemor e como limite entre o espiritual e o material (no caso de Disturbia, entre o que é realidade e entre o que é fantasia). E temos a aranha.

Em relação à mitologia, a aranha me faz lembrar a Aracne, história da mitologia grega. Aracne era uma mortal que bordava (ou tecia?) lindamente. Todos admiravam muito o trabalho dela e ela começou a ficar toda cheia de si a ponto de se comparar com a deusa Atena. Atena, furiosa, decidiu que haveria uma competição entre as duas e caso Atena fosse melhor, ela mataria Aracne. As duas bordaram e teceram, e a deusa ganhou. Aqui as versões meio que divergem: umas dizem que Aracne se enforcou, outras dizem que Atena transformou a bichinha em aranha logo e então ela passou a tecer teias em vez de tecidos. E assim temos o animal carregado de simbologia. Se formos ajustar na mitologia, a aranha representa ego, a vontade de se julgar maior que o criador/chefe/qualquer coisa. Em outros significados, a aranha representa destino. Pois bem, em Disturbia, que significados teríamos? Eu acho que seria no sentido mais de armadilha, outro dos significados populares da aranha (que aparece também no filme Coraline, por sinal). A teia de aranha na cena de Rihanna com manequim é uma armadilha, ainda mais tendo o agente da manipulação em cena. A aranha subindo pelo corpo de Rihanna quando ela está aprisionada pode ser interpretada como um indicador de que tudo aquilo é uma imensa e gigantesca armadilha e ela está tecendo isso cuidadosamente sobre uma Rihanna aprisionada.




Como conclusão final, eu aponto para a frase "Were in the city of wonder". Eu pensei em traduzir como "Estamos no País das Maravilhas", mas obviamente não é "wonderland", e sim "cidade das maravilhas". Porém o sentido é bem parecido: se perder em um lugar que é confortável para você ("It's too close for comfort"), se emaranhar em armadilhas (aranha, manequim), acabar se aprisionando dentro da sua própria cabeça (correntes, grades). É um vídeo sobre prisão mental e de como isso funciona. De certa forma, todos nós temos uma prisão psicológica, como grades na nossa mente que prendem várias coisas (fantasias reprimidas, por exemplo) e de como isso afeta nossa sanidade, de um modo que pode parecer normal no começo, mas não é. Perdemos, então, o limite da nossa própria consciência sem se dar contas que criamos ainda mais grades. Eu acho que dá para dizer que, de um jeito mais normal (ou não), todos nós temos uma Rihanna Rainha dentro da nossa mente.


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